quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

RICARDO VIEIRA - Choro e Vida

Aproveitando a ocasião do 1o Festival de Violão de Sergipe, trago para os 2 leitores do blog as palavras humildes e tranquilas de Ricardo Vieira - como Vanzolini também um pesquisador e compositor - já mestre de carteirinha e estudioso aplicado do violão brasileiro. Vamos conhecer um pouco mais do artista que se apresenta dia 21/02/14 no Palácio-Museu Olímpio Campos.
Ricardo e o 7 cordas
Fale de suas influencias e formação musical. Teve estudo formal ou auto-didata? Músicos na familia?

Comecei a estudar música por volta dos 14 anos de idade por influência direta do mestre Samuel Marques, atualmente Capitão e Regente da Banda de Música do Corpo de Bombeiros Militar de Sergipe (o "gatilho"maior foi quando o presenciei escrevendo um arranjo para uma orquestra sinfônica apenas com papel e caneta à mão... Naquele momento decidi que queria aprender a fazer aquilo um dia...). A partir de então começava uma grande temporada de aulas de teoria da música, leitura e percepção, com uma forma muito particular de ensino com ênfase no processo criativo. Tudo que eu conseguia captar, aplicava ao violão (emprestado) e a uma guitarra (emprestada de um amigo que a guardava há anos embaixo da cama, cheia de cupim e fungos... Serei eternamente grato àquela linda Gianini Stratosonic). Minhas influências eram muito variadas, cresci ouvindo os discos de Waldir Azevedo, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis que meu avô colocava aos finais de tarde, e o mestre Samuel Marques me apresentou de Bach a Hélio Delmiro e John Coltrane. Ainda na adolescência tive o primeiro contato com o violão de sete cordas. Eu ficava admirando as rodas de choro que se formavam na casa da família Argolo, até que um dia surgiu a oportunidade de Integrar um grupo de Choro na Escola de Artes do antigo CAIC. Foram quase dois anos de muito Choro em apresentações diversas. Quando do termino do projeto, devolvi o Setão à instituição e voltei aos estudos de Guitarra. Foram aproximadamente dez anos anos estudando esta maravilha de instrumento, sempre sob a orientação do mestre Samuel Marques. Escutava tudo do Frank Solari, Mozart Mello, Vai, Satriani, Petrucci, Gambale, Clapton, Kotzen, Morse dentre outros. De fato, não tive uma formação formal, mas sempre fui tomado por um enorme desejo e satisfação em estudar música de um modo geral. Concomitante aos estudos musicais, Graduei academicamente em Biologia e concluí um mestrado em Biologia Parasitaria com ênfase em Biologia Molecular. Quando surgiu e oportunidade do Doutoramento, resolvi optar em me dedicar exclusivamente à música... Apesar de gostar muito da área de pesquisa biológica, concluí que era o momento de tomar uma posição definitiva quanto ao futuro profissional. Nos últimos anos venho me dedicando e estudando o mundo do Violão de Sete Cordas e atualmente sou graduando do curso de Música da Universidade Federal de Sergipe e aluno do Mestrado Profissional da Universidade Federal da Bahia, na área de Criação e Execução Musical. Além disto, desenvolvo o trabalho em Duo com o Flautista João Liberato e integro e dirijo o Grupo Brasileiríssimo.

Joãozinho (João Menezes Jr.) vivia me dizendo 'vamos na casa desse brother meu que tem uma Cheruti modelo Frank Solari'. Demorei tanto a ir que agora você toca violão e Choro. Como se deu essa transição? E por quê?

A transição entre guitarra e violão se deu de maneira natural e paulatina. Digamos que o "primeiro amor foi o violão", fui encantado pela guitarra, mas voltei ao amor primeiro. Clm relação à Cherutti, está foi minha primeira guitarra de fato, uma maravilha de instrumento.

Fale sobre o FEVISE. Como surgiu, qual a proposta? Será um evento regular? As expectativas estão sendo alcançadas? O que você e Liberato pretendem mostrar no Palácio na próxima 6a feira?

A proposta do FEVISE surgiu de uma conversa com o Prof. Alessandro Pareira (UFS), idealizador do evento. Ele chegou há pouco tem em Aracaju e já realizara diversos eventos musicais do gênero em outros Estados. Então buscamos parceria com a UFS e o Palácio Museu Olímpio Campos que através da diretora Marieta, a realização do evento tornou-se possível. A proposta consiste em apresentar ao publico o grande e singular repertório de violão de vários períodos da história da música através de recitais quinzenais. Além disto, como consitui um evento inédito em nosso Estado, também tem o objetivo de revelar e apresentar os violonistas do cenário local, e promover o intercâmbio com grandes nomes do violão no Brasil, inclusive com reconhecimento internacional. O evento terá uma regularidade e já estamos trabalhando a proposta do próximo e as expectativas são mui positivas, como por exemplo do resultado do primeiro recital. Aproveito para adiantar para os leitores deste maravilhoso blog que que teremos uma grande novidade para o segundo semestre. Para o nosso recital dia 21/02/14, preparamos um programa em que apresentaremos arranjos para flauta e violão de grandes nomes da música Brasileira e Latino-americana, como por exemplo Pixinguinha e Astor Piazzolla.

Marcus Ferrer na abertura do 1o FEVISE

Ainda tem guitarras, pedais e amps? O amor pela elétrica esvaiu-se am lágrimas ou está só hibernando?

Atualmente tenho apenas um Violão de sete cordas acústico construído pelo luthier Lineu Bravo, construído com tampo de cedro, corpo e, jacarandá e escala em ébano. Uma instrumento com um timbre bastante equilibrado. O amor pela elétrica se encontra presente, mas apenas canalizado para o prazer de ouvir os grande mestres.

Uma mensagem pros 2 leitores de meu blog.

Gostaria de deixar para todos nós, a ideia de que podemos e devemos aproveitar este pequeno espaço de tempo neste planeta para nos dedicarmos e enfrentarmos o que for necessário para fazer aquilo que nos traz a paz e realização plena. Que façamos o que escolhemos da melhor forma possível, afinal somos os principais responsáveis pelas nossas conquistas.


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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

RUBENS LISBOA - ele, nós e as vozes

Em 1996 fazia parte da banda de baile Água Viva e gravávamos o 1o CD da banda no Estúdio “AV”, hoje Estúdio 3. Tinha 20 e poucos anos, muito rock nas veias e aproveitei bastante a experiência. Conheci grandes músicos e técnicos como Carlinhos Menezes, Eduardo Menezes e o virtuoso Gilson Batata, de saudosa memória, e aprendi muito com todos eles.


Havia no corredor do estúdio um pequeno quadro branco onde os funcionários anotavam as pautas. E nas pausas pro cafezinho notei que Rubens Lisboa ocupava muitos horários, assim como o Água Viva. Ele pegava três tardes na semana, o Água pegava quatro noites, algo do tipo. Mas nunca nos encontrávamos. Fiquei curioso: o que estaria tramando o cantor que eu havia conhecido na banda Água Furtada, também promotor do festival de música Festi-Livre (do qual participei em 1989 com música de minha autoria chamada “Solidão”)?


Imbuído do ímpeto dos jovens, não me fiz de rogado e liguei pra ele, dizendo que estava ali também gravando um CD e que “seria uma honra participar do trabalho” etc. Foi a 1a e única vez que fiz isso e devo ter sido bem convincente, pois toquei em todos os CDs que Rubens gravou desde então, com destaque para o “Todas as Tribos” (2007), no qual gravei a maioria das faixas. Logo no seu 1º CD, lançado em 1998, Rubens me fez estrear também na produção e arranjos, com a faixa “Dialogando” (Tonho Baixinho/Irmão), em que ele e Chris Emmel dividiram os vocais e cujas sessões de gravação foram memoráveis.


Gravar no “Assim Meio de Lua” abriu muitas portas e a partir dele conheci muitos artistas com quem gravei e/ou fiz shows, a exemplo de Mingo Santana, Minho San-Liver, Sulanca e Neu Fontes. Fiz também muitos shows com Rubens e, o mais importante, ganhei um amigo de raros bom gosto, inteligência e talento.


Vamos agora saber do próprio artista quais as novidades do show em cartaz no Museu da Gente Sergipana bem como as demais deste ano que mal se inicia e - felizmente! - já se revela muito promissor para o cantor e para a arte sergipana.




(Vinnas) Rubens, o ano começou com a grata surpresa de assistir a um show num local fantástico, o Museu, e desvinculado do lançamento de um CD, como é usual na sua obra. Qual foi a concepção desse novo formato, um trio com percussão, violão e sanfona?


(Rubens Lisboa) Há algum tempo que venho tentando fazer um show mais simples, acústico mesmo, com uma formação resumida de músicos que possa me propiciar fazer uma série de apresentações sem a necessidade de uma parafernália maior como a que envolve o trabalho com uma banda. Aracaju e redondezas não possuem espaços cênicos pequenos, como é comum, por exemplo, no Rio de Janeiro, e não dá para cantar com frequência nos nossos templos, os Teatros Atheneu e Tobias Barreto, por conta dos vários gastos inerentes ao processo. A formação com percussão, violão e sanfona veio de forma natural, intuitiva mesmo. Embora minha formação de ouvido como cantor tenha sido sempre com piano, achei por bem testar o violão como instrumento condutor. A percussão serve como base e controla os tempos e a pulsação. E a sanfona vem para completar, dar um brilho todo especial ao conjunto. A sonoridade está muito bonita, de certa forma é uma coisa nova (eu, que me lembre, nunca vi essa formação em palcos sergipanos) e o público vem gostando muito, conforme me é relatado ao final das apresentações.


Acho sensacional que o trabalho autoral tenha ganhado um espaço tão nobre quanto o Café da Gente, podemos esperar mais shows de Rubens em curto prazo?


Gostaria muito de cantar com mais frequência e vou tentar fazer isso em 2014, não obstante ser um ano atípico com realização de Copa do Mundo e Eleições, o que certamente monopolizará a atenção geral. Mas o desejo é este mesmo, desde que nos seja possibilitado fazê-lo com qualidade. Ainda neste primeiro semestre deverei voltar ao Café da Gente com um novo repertório, já que estamos testando as canções durante esse projeto. E permanecemos à procura, sim, de novos espaços para levar a nossa arte.


Os novos arranjos simplificaram algumas músicas mais antigas,  gravadas com banda completa (como “Samba”, “Aluaran” e “Maria Alice”), no entanto a essência das músicas se manteve. Foi muito trabalhosa a readaptação?


Não, foi um processo bastante tranquilo. Eu acho que cada canção tem uma vida própria desde que nascem. E todas as vezes em que são executadas, elas se mostram de alguma forma diferente. Isso é o que mais me excita e estimula nessa viagem de compor e cantar. Eu não tenho medo de experimentar e deixo os músicos livres para se apaixonarem pelas canções que escolho para o repertório dos shows. Tem sempre funcionado dessa forma. Eu pessoalmente não senti nenhum grande baque com a passagem, por exemplo, dessas três músicas citadas de um arranjo com banda para o formado aparentemente mais simples com apenas três instrumentistas. Acho que o peso delas está lá, a história de cada uma fala por si e o que é belo se faz muito difícil de ser estragado.




Maria Alice” é uma de suas melhores músicas, em minha opinião, mas não me lembro de tê-la tocado muitas vezes nos shows que fiz com você. Tive mais uma boa surpresa ouvindo-a no novo show. Foi saudades dela (rsrs)?


Saudade eu tenho de muitas músicas que gravei nos meus quatro CDs e que, por um motivo ou outro, não as venho incluído nos roteiros das minhas apresentações mais recentes. “Maria Alice” decerto que é uma delas e de verdade eu sempre a cantei muito pouco, até por conta do tom da gravação original que eu sempre achei muito alto e, isso, me bloqueava de certa forma. Mas sempre foi uma canção muito pedida e cobrada por aqueles que curtem o meu trabalho. A gente baixou um tom agora e ela entrou tranquila. Creio que doravante terá vida longa no set list dos meus shows.


Pelo nome do show (“Nós & Vozes”) e sabendo de sua atenção aos detalhes, achei que haveria convidados. Foi uma pegadinha do Rubens isso (rsrsrs)?


Não. O nome, a princípio, não tem a ver com a presença de convidados que, se vierem a aparecer durante as apresentações, serão bem-vindos. O “nós” diz respeito a mim e aos três músicos que estão comigo no palco (Dudu Prudente, Saulo Ferreira e Glaubert Santos). Quanto ao “vozes”, eu gostaria muito que fosse as do público me ajudando a cantar as canções escolhidas. Se bem que a galera ainda é muito tímida. Por incrível que pareça, ficam cantarolando baixinho...


Quais os projetos para 2014?


Viver sabendo respirar com tranquilidade o que a vida proporciona de bom: esse é o maior projeto. E cantar muito. E compor sempre que os deuses da música me soprarem aos ouvidos. Tenho feito algumas experimentações no formato voz e piano com Plínio Vasconcelos e, quem sabe, não sai alguma coisa boa daí, né? Mas ainda é algo muito embrionário. Tenho vários outros desejos: um CD infantil, outro somente de blues, outro apenas como intérprete. Vamos ver o que acontece... Artista é muito instável! De repente, surge outra ideia que não tem nada a ver com isso tudo e aí passa na frente delas todas. De certeza, somente que cada vez cresce o meu amor à música.


Mande uma mensagem para seus fãs e amigos.


Obrigado pelo carinho e pela constância e continuem acreditando no talento sergipano!

LINKPEDIA

Este blogueiro também se arrisca na produção de vídeos. Já estão disponíveis dois, capturados no show do dia 10/01.

ALUARAN

MARIA ALICE

O artista possui também uma página no iTunes, onde suas músicas podem ser ouvidas e adquiridas: https://itunes.apple.com/br/artist/rubens-lisboa/id308060165

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

JURANDIR SANTANA - Homem-Chula

No final de 1985 cursava o 2o científico e fiz um passeio com os colegas de classe para a ilha de Itaparica. Um dos fatos marcantes foi a incessante repetição no ônibus, por parte de dois colegas, de um irritante e até então desconhecido refrão, cantado sem muita afinação e que falava de pegar ela aí pra passar batom na boca e na bochecha. E todos - menos eu, um projeto de  metalhead - se divertiam muito com as presepadas e o trocadilho. Era o início da dominação do gênero que reinaria nas paradas por mais de década. E o "som da Bahia" começava a adquirir contornos obscuros para mim...


Em 1989 conheci pessoalmente o baiano Alex Vargas, guitarrista de Daniela Mercury, que veio estudar Economia na UNIT e deixou todo mundo boquiaberto, pois tocava o Rising Force na íntegra. Foi a única vez na vida que subi num palco tocando baixo, virei o Noel Redding dele. Era o que me restava diante daquele guitar assault avassalador. Fomos próximos por algum tempo e até música em parceria fizemos.


E aos poucos a Bahia e eu íamos nos reconectando e tecendo a paz musical (ainda menino, e isso muito antes do Rock chegar, fui a um show de A Cor do Som. E depois de ver Armandinho de perto decidi que aprenderia guitarra). No começo dos 90´s conheci Alex Mesquita, a quem trouxe para um workshop de dois dias em 1993 (talvez o primeiro ocorrido nestas terras), depois conheci o som de Mou Brasil, Gerson Silva e muitos outros, dentre eles Jurandir Santana. Na verdade, e eu só descobriria isso algum tempo depois, a música "do povo" impregna a Música Brasileira já faz muito tempo. Alex Vargas me disse uma vez, isso já nos anos 2000, que estava pesquisando guitarra baiana, Chula etc. Mas a Chula já apitava no Expresso 2222, pela pegada virtuosa do Mestre Gil, desde 1972. Eu era que não sabia disso ainda.

Jurandir Santana é um expoente dessa geração de músicos que, a exemplo de Fred Andrade e Luciano Magno em Recife com seus frevos e maracatus, incorpora a música nordestina e baiana à linguagem do jazz, do improviso, forjando música brasileira de forte apelo universal. Afinal, tendo o Homem surgido na África e sendo a Bahia o mais africano dos Estados, ouvir Jurandir torna-se experiência quase atávica. Para o Homo sapiens, ouvir as vozes da África e seus desdobramentos é como voltar pro berço.

Vamos ouvir agora a voz de Jurandir, que fará workshop em Aracaju no próximo dia 22/01/2014:



Como você tornou-se guitarrista? Quais suas influências? Tenho seu CD "Só Brasil" e noto muita influência de música brasileira e nordestina.
   
Na verdade, quando eu tinha 10 anos queria ser baterista (rsrs ), eu nasci em um bairro totalmente percussivo,  chamado Liberdade, em  Salvador. Pedi uma bateria a meu pai, mas como morávamos em apartamento, não daria pra ter uma, eu queria ser músico de qualquer maneira, então achei mais prático ter um violão pra começar. Daí passei para a guitarra baiana, fascinado pelos solos de Armandinho, e a partir de 1985 fui de vez para a guitarra.
Tenho muitas influências e muitas não são guitarristas... de guitarristas posso citar os que foram uma escola pra mim: Armandinho, George Benson, Pat Martino, Pat Metheny, Toninho Horta, Nelson Veras e Mou Brasil.
No Cd Só Brasil quis mostrar minhas influências rítmicas como: Ijexá, Samba Duro, Baião, a Chula...mas eu não queria soar regional e sempre adiciono uma surpresa harmônica, tentando deixar a musica "colorida ", harmonicamente falando.


Assisti a muitos shows em Salvador, nos anos 90, de músicos da cena do Axé que se reuniam em combos instrumentais maravilhosos (assisti a Letieres Leite, Paulinho Andrade, os irmãos Brasil, dentre outros). Como está a cena em Salvador hoje, para a música instrumental?


Estão surgindo novos grupos  e há projetos importantes que ainda são mantidos, como o projeto Jazz no MAM, que foi a minha escola no Jazz.  Uma coisa bacana que vejo na cena de Salvador é que os músicos estão se dando conta que a música da cidade é forte e que é possivel tocarJjazz com o ritmo do lugar em que se vive, pra mim jazz é uma liberdade de expressão, não é necessario que toquemos bepop ou um swing americano, podemos tocar jazz no ritmo Ijexá, por exemplo.


Você trabalha também como sideman? Quais as diferenças e semelhanças entre as duas abordagens (sideman vs. frontman)?
 
Já trabalhei muito como sideman mas hoje em dia, desenvolvendo o meu trabalho solo, cada vez menos trabalho acompanhando artistas. Mas posso dizer que tudo que aprendi na música foi como sideman, tanto musicalmente como artisticamente falando. Eu observava muito os artistas com quem eu trabalhava, como eles conduziam seus respectivos trabalhos, realmente é um verdadeira escola, sem falar na quantidade de estilos musicais que tive que tocar, isso te dá uma visão muito ampla da Música. Me ajudou muito na questão de arranjos e produção musical.
Diferenças: como sideman você faz parte do contexto, está sendo conduzido pelo artista, se ele não for experiente pode colocar tudo a perder....você como frontman tem a função de ser músico e artista, tem a responsabilidade de fazer o show funcionar, de mostrar o seu trabalho. Como frontman, muitas vezes não é necessário o cara ser um instrumentista  maravilhoso.
Semelhanças: penso que se o músico já trabalha como sideman, quando ele passa pro front vem com muito mais bagagem de palco e mais completo.
 
Você pertence ao time de Romero Lubambo, João Castilho, Ivan Lins e outros - inclusive este blogueiro: engenheiros de formação. Como foi o seu estudo de Música? Você se considera um autodidata?
(risos) Me formei em engenharia elétrica pela Universidade Federal da Bahia, meu estudo musical foi através de muita curiosidade, tive aulas particulares de violão no início e depois fui buscando as coisas pela necessidade. Tive um professor muito bacana  que me deu as primeiras aulas de improvisação, o Carlos Chenaud. Mas muita coisa aprendi e aprendo na rua, errando, acertando, a vida é assim!

O que podemos esperar do workshop em Aracaju? Quais serão a abordagem e os métodos?


Além de improvisação e ritmos vou falar também da experiência de ter uma carreira fora do Brasil, como funciona o mercado atual para o músico, além de tocar composições de minha autoria e mostrar alguns arranjos que tenho feito em standards americanos, com uma linguagem totalmente afro brasileira.

Quais os seus projetos para 2014? Deixe uma mensagem para os fãs e admiradores do seu trabalho.

No começo de 2013 me mudei para Barcelona para ampliar meu mercado na europa, Muitos projetos estão por vir, para começar estou lançando meu primeiro clipe agora em janeiro 2014, gravado inteiramente em Barcelona. Na sequência vem meu segundo disco ,lançamento do “songbook Só Brasil”,  também tenho um projeto muito interessante com o baixista do pianista Omar Sosa, o Childo Thomas, uma fusão das músicas brasileira e moçambicana (esse show devemos apresentar na Europa, África e Brasil) gravação do primeiro  disco do Conectrio, grupo com o gaitista Gabriel Grossi e o percussionista Reinaldo Boaventura,  lançamentos de dois projetos com músicos espanhois que produzi no final de 2013, além do lançamento do Grupo Quebrante, um grupo instrumental com músicos  do Brasil, Argentina e Mexico.
Para fãs do meu trabalho, agradeço sempre o carinho e a admiração que as pessoas têm tido com o meu trabalho, tenho recebido muitas mensagens de músicos de todas as partes do Brasil, isso me dá mais vontade ainda de fazer coisas bacanas, é isso que move o músico.



Linkpedia

Site oficial, bastante completo:





terça-feira, 7 de janeiro de 2014

HUGO L. RIBEIRO - Constant Motion

Do adolescente curioso que me espiava no gargarejo dos shows do Hemisferios, no começo dos anos 90, ao professor-doutor que ajudou a formatar o curso de Música da UFS e hoje leciona na UNB muitas águas rolaram para Hugo L. Ribeiro. Graduação na UFBA, doutorado na Irlanda, várias passagens por bandas locais como Maria Scombona, Sulanca, Bando de Mulheres e Warlord, a paternidade de três, etc.


A inquietação, no entanto, continua a mesma, se é que não aumentou. Dele eu costumo dizer que apenas 10% dos projetos vingam, mas como ele sempre está inventando alguma coisa já é barulho mais que suficiente.


A última dele foi cooptar seus alunos da UNB para executar na íntegra a magnum opus do Dream Theater, o Images & Words, álbum que em 1992 - auge do Grunge! - definiu as regras do que viria a se chamar de "Metal Progressivo".  


De férias em Aracaju, HLR fará um workshow onde executará na íntegra o álbum clássico, no dia 11/01/14 (vide detalhes na foto abaixo). Aproveitei e fiz algumas perguntas para o blog.





(Vinnas) 1. Vc se considera um guitarrista de prog-metal? Por que tocar o I&W inteiro? Algum desafio pessoal?

(HLR) Essa é uma pergunta complicada, uma vez que não toco há quase quatro anos. Mas diria que, se fosse escolher atualmente, tocaria um Death Metal Progressivo, com muita liberdade para dissonâncias e atonalismo. O Metal Progressivo é muito tradicional na maior parte do tempo, e isso cansa. 

Eu escolhi tocar o IaW como desafio pessoal mesmo. Eu gosto de me impor desafios e tentar superá-los. Como se eu estivesse provando para mim mesmo que eu consigo algo. Foi assim quando eu voltei da Irlanda do Norte e fiquei quase seis meses estudando e treinando o Moto Perpétuo de Paganini e o Vôo do Besouro. Estava na hora de outro desafio. em 2014/1 haverá um mais difícil: Tribal Tech!

2. Qual a música mais difícil de executar e por que?

Tecnicamente falando foi Take The Time, pois há dois trechos dobrados com o teclado que são muito complicados de fazer por causa da mudança constante de corda. Pull me under tem uma frase de guitarra que é praticamente impossível tocar ao vivo. Pelo que vi em alguns vídeos, nem o Petrucci se importa muito com ela. Learning to Live foi complicada para aprender, pois há muitas variações. O problema de tocar um disco como esse é conseguir decorar tudo. É muita coisa para aprender, e os pequenos detalhes enriquecem a composição.

3. Qual foi seu regime de treino pra encarar o desafio? 

Primeiro eu decorei todas as notas e ficava tocando na metade do tempo. Depois de decorado, comecei a aumentar a velocidade para chegar no andamento original. Estudava todo dia. Depois que aprendi todas as músicas aí eu relaxei um pouco e tinha semanas que nem tocava guitarra. Mas aí, na semana seguinte, tocava quase todos os dias. Sempre que ia tocar, colocava o playback e tocava todas as músicas. Depois voltava uma a uma e tentava corrigir os problemas. Outras vezes eu ia direto no problema e ficava quase uma hora repetindo, para conseguir a habilidade técnica necessária. É um processo muito chato, mas necessário. O programa JAMMIT ajudou muito ao disponibilizar os playbacks sem a guitarra. Mas quando eu não tinha os playbacks eu colocava uma bateria eletrônica (Hydrogen) e tocava parte por parte. 

4. Quais as características mais marcantes do estilo de John Petrucci?

Ele é muito diatônico, então não apresenta dificuldades em entender seu solo. O que é necessário é alcançar sua destreza técnica, sua capacidade de tocar tão rápido com tanta clareza e fluência. Ele gosta muito de acordes abertos e, quando não dá, ele usa muito acordes sus2, seja para acordes com características maiores ou menores. Essa é uma marca bem específica dele. Outra característica marcante é o uso rítmico da mão esquerda, dobrando notas em alguns momentos. Seria como se um trecho fosse todo em colcheias e algumas notas soltas ele toca semicolcheias. Ele faz muito isso. O exemplo mais claro é no início da parte instrumental de metrópolis. 

5. Fale sobre o workshow: o que será abordado? 

É um pouco de tudo isso que falei acima. Mas vou chamar a atenção para os detalhes que às vezes a gente não ouve. Sugiro que os interessados assistam ao vídeo da apresentação que fiz na UnB com a banda tocando todo o álbum. Prestem atenção no baterista. Ele tocou tudo igual nos mínimos detalhes. São poucos os bateristas que topam fazer algo assim. Mas foi maravilhoso tocar com ele. Espero encontrar outros músicos com tanta dedicação e seriedade. 

Linkpedia


Show da UNB na íntegra:



quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

ANDRE NIERI - virtuose brasileiro

Em 2011, estimulado pela compra de alguns gadgets de filmagem e edição, comecei a postar vídeos no Youtube com mais frequência. Minhas músicas, algumas versões e também achei de participar de “concursos de guitarra”. Um dos primeiros foi o “Fuhrmann/DeRos”, no qual os participantes tinham 30 segundos para criar um solo sobre uma base apenas de baixo e bateria lembrando “Black Star”, de YJM. Postei 4 vídeos e terminei em 3o lugar. Ganhei um pedal, ampliei os contatos, enfim, o lado “bacana” do negócio.

Na véspera do final do prazo, um guitarrista ungido por uma Gisele Bundchen guitarrista postou 5 videos de uma vez, cada um mais diferente que o outro, cada um melhor que o outro. Havia rock, fusion, blues, enfim vídeos para todos os gostos (o de Les Paul é meu favorito). E não deu outra, era Andre Nieri faturando o 1o lugar, com grandes méritos. E eu me perguntando: “Oxi! Quem é esse ishperto que esperou os 47 do segundo pra dar o bote!?..”

Nessa mesma época começamos a trocar algumas ideias, enquanto assistia aos videos que ele frequentemente começou a postar. Nascia o “papa-concursos”, alguns até de nível internacional. Quando não ganhava, ficava sempre nas cabeças.

Assim Nieri tornou-se, nesses dois últimos anos, um dos guitarristas mais conhecidos da geração youtube/redes. No entanto, sua linguagem musical soa bem mais complexa - e até mais hermética - aos ouvidos mais diatônicos e mais acostumados aos “petruccianismos” que hoje abundam na mídia e nas redes. Sua formação abrange do violão brasileiro ao fusion experimental, passando pelo rock. Seja vitaminando solos de covers em sua banda top-40 Popmind, seja tocando linhas impossíveis em sua superstrat Suhr - “de dedo”, como um violonista - e levando ao extremo uma outra moda, a do hybrid-picking abusado por Govan, Garsed e muitos outros, parece não haver limites para André Nieri.

Convido pois os dois leitores do blog a conhecer um pouco do universo musical do paulista que ainda vai dar muito o que falar na comunidade guitarrística.



(Vinnas) Como e quando surgiu o interesse pela Música? Havia um ambiente musical em casa e/ou músicos na família? Algum show a que você assistiu "plantou a semente" ou algo do tipo?

(Andre Nieri) Surgiu quando eu tinha mais ou menos 6 anos. Ninguém na minha família é músico, então o interesse veio da televisão: era época do grunge e eu assistia muito MTV em casa e ficava fascinado com os guitarristas. Era tanto o vislumbre que construía guitarras de papelão e aos 7 ganhei de Natal uma guitarra de brinquedo. Foi muito marcante.
Na mesma época, meu irmão começou a fazer aulas de violão e eu também fui na onda, mas era tão pequeno que não conseguia tocar com o violão na posição 'normal': deitava-o e tocava apenas com o polegar.
Aos 9 anos, comecei a tocar com o violão na posição certa e desde então as coisas foram caminhando. Tive um desenvolvimento inicial muito rápido: aos 12 já tocava em bandas de heavy metal com meu irmão e aos 14 comecei a ensinar guitarra.


Muitos guitarristas que estudaram violão tem um som de guitarra "diferente". Um pouco mais "duro" eu diria, e me vem a mente nesse sentido os Steves do prog, Howe e Hackett. Você, pelo contrário, mantém a pegada e idiosincrasias do rock, embora utilizando técnicas apreendidas do violão. O que você teria a dizer sobre sua abordagem e sua visão das guitarras elétrica e acústica (nylon)?


Eu não diria que a abordagem desses guitarristas que você citou seja 'dura': talvez, como o paradigma de violão deles venha do clássico ou folk americano, eles não suinguem tanto e/ou toquem exatamente dentro do tempo. No meu caso, como meu approach violonístico é totalmente popular brasileiro, é bem mais swingado, com certeza. Violonistas brasileiros também já flertaram muito com o jazz, e adoram 'flutuar' sobre o tempo, até mesmo quando acompanham. Eu sou fanático pelo violão brasileiro desde quando ouvi pela primeira vez Paulinho Nogueira, quando eu tinha 12 anos. Desde então, sempre sonhei possuir aquela linguagem e técnica. Depois de Paulinho, vieram Baden, Rabello, Guinga, Yamandu, Tardelli e muitos outros.
A minha ideia sempre foi mesclar as peculiaridades dessa técnica com as guitarras com drive.
Acredito que a técnica do fingerstyle aplicada na guitarra elétrica é muito pouco explorada ainda e hoje em dia vejo uma crescente de guitarristas interessando-se e tentando levar isso à frente, o que é fundamental para o desenvolvimento da guitarra.



Você toca linhas muito complexas em alta velocidade, muitas vezes em free timing, no entanto você recupera o beat com muita facilidade (a exemplo de Guthrie Govan). Como você atingiu esse grau de fluência? Trilhou algum atalho? Trabalhou deliberadamente para isto ou velocidade apenas é algo natural?

Obrigado! Esse approach de free timing advém basicamente da improvisação jazzística livre. Houve uma época na minha vida que só ouvia jazz e queria ser um músico de jazz. Mas como você não pode mentir pra si mesmo, acabei desistindo, pois sempre sentia falta de algo. Uma coisa muito boa que isso me trouxe foi exatamente o aspecto de improvisação mais free timing, mas sempre consciente. No rock, isso não funciona tão bem quanto no jazz, mas funciona em alguns momentos: se você tiver o feeling, consegue encaixar. Eu trabalho muito para isso acontecer, sempre tento criar frases e dinâmicas que desafiem meu atual estilo de tocar, para nunca estagnar.


Já vi videos seus usando Telecasters, Stratocasters, Les Pauls, Suhrs etc., sempre com a mesma fluência. Você não tem a sua "favorita" ou a "do set-up favorito"? Como os pianistas, sua técnica é tão "over-developed" que permite atingir a mesma fluência em diferentes instrumentos?


Minha guitarra predileta atualmente é a Suhr Modern Frost. Com ela, consigo diversos timbres, além da tocabilidade ser fenomenal. Eu também adoro Les Pauls, Stratos e Teles. No início, eu sentia muita diferença entre as guitarras, mas como já tive todos esses modelos que você citou, fica muito mais fácil hoje em dia, pois sei como tocar em todas elas, impondo meu estilo independente da guitarra.
Uma das únicas coisas que me privam de impor definitivamente minha técnica é a altura de cordas: como trabalho muito com ligados, ação muito alta pode prejudicar a execução de minhas frases características.
Algumas guitarras certamente puxam para um estilo particular: por exemplo, quando pego uma Les Paul, já é automático sair tocando algum classic rock. A guitarra te joga essa responsabilidade, pela enorme história, tradição etc.


De Lespa. Gisele observando.
Acompanho seus videos e mesmo nos mais antigos você já prezava pelo uso de equipamento "reais": além das guitarras já citadas, amplificadores valvulados, pedais, fugindo dos simuladores digitais, muito comuns hoje. Você não utiliza esse tipo de equipamento? Que amplificadores e efeitos você utiliza? Além das frases já características, Nieri já possui "um timbre" consolidado?


Utilizo simuladores em apenas duas situações: ao vivo, caso a gig não suporte uso de amplificadores em palco, e em casa, para dar aulas ou gravar guias de composições próprias.
Hoje em dia, minha rig é composta basicamente de:
- amps Bogner (Shiva e Ecstasy 20thA);
- pedais diversos (Malekko Ekko 616, MXR Micro Flanger, EHX Micro Pog, MXR Phase 90 '74, Maxon OD9, Maxon SD9, Xotic BB Preamp, Xotic RC Booster, Fulltone Octafuzz 2, Bogner Ecstasy Red, Dunlop CAE 404, TC Electronic Polytune, Boss TU12 e Two Notes Torpedo CAB).
Não utilizo todos esses pedais de uma vez: monto meu pedalboard de acordo com as necessidades da gig. Geralmente, quando uso meus amps Bogner, não utilizo nenhum pedal de drive/boost.
Com relação ao timbre pessoal, ainda estou na busca, mas sou muito influenciado pelos timbres de caras como Eric Johnson, Scott Henderson, Andy Timmons, Michael Landau, Steve Lukather... Consequentemente, meu som vai lembrar algum ou alguns deles.


Você falou em improvisação jazzística. Como foram seus estudos nesse aspecto, e onde? O Conservatório foi sua principal fonte de estudo? Há algum traço de auto-didatismo em André Nieri?


Estudei improvisação MPB/jazz no renomado Conservatório de Tatuí, no interior de SP. Tive a oportunidade de estudar com, por exemplo, André Marques (pianista de Hermeto Pascoal), entre outros. Foi um aprendizado incrível, mas antes de entrar pro conservatório eu já tentava descobrir 'como funcionavam as coisas' em casa mesmo: tirando de ouvido as músicas e solos dos meus ídolos. Esse foi, com certeza, o maior aprendizado de todos: aprendi a educar meu ouvido. Passei, basicamente, mais de 10 anos da minha vida musical apenas transcrevendo músicas/solos dos meus ídolos. Isso ajudou muito na hora de elaborar meu próprio vocabulário, pois além de ter na cabeça uma vasta gama de opções já estudadas anteriormente, eu conseguia passar pro instrumento o que ouvia na cabeça. Hoje em dia eu não estudo mais com um professor, pois estou numa outra fase, que é a construção do meu estilo, do meu som. Eu estudo desenvolvendo ideias.

Improvisando com o Bicudo
A sua linguagem de solos utiliza muitos intervalos amplos, muitas linhas em que apenas uma nota por corda é utilizada. Você busca, assim como outros guitarristas de jazz e fusion, emular outros instrumentos (sax, trompete, etc)? Quem são os guitarristas que mais influenciaram a construção de seu estilo?


Emular outros instrumentos na guitarra é muito eficiente. Caras como Allan Holdsworth, Frank Gambale, Scott Henderson, entre outros, fazem-no com total maestria. Sinceramente, não busco isso como principal objetivo, pois também adoro guitarristas. Porém, sempre que posso, tento filtrar coisas que caras como Michael Brecker, John Coltrane, Herbie Hancock etc, fazem, pois isso só agrega ao seu vocabulário de ideias.
Existem muitos guitarristas e violonistas que ajudaram a moldar meu estilo: Allan Holdsworth, John Petrucci, Steve Lukather, Guinga, Pat Metheny, Scott Henderson, Brett Garsed, Marcus Tardelli, Raphael Rabello, Wayne Krantz, Frank Gambale, SRV, Eric Johnson, John Sykes... enfim, são milhares que me influenciaram e que me influenciam até hoje. Sem contar os que não são guitarristas/violonistas...
Na verdade, deixo me influenciar por qualquer música boa! A música não tem limites.


Já vi você usando tapping, alternate e sweep picking, tocando violão, etc etc. Existe alguma técnica ou estilo que você evite deliberadamente, por não se sentir à vontade com a linguagem ou por qualquer outra razão?


Bem, eu não utilizo muito a técnica de tapping por duas razões: 1) simplesmente sou péssimo em tapping; e 2) como utilizo unhas, por causa do violão e da técnica de fingerstyle aplicada na guitarra, elas dificultam a técnica de tapping. Na verdade, até teve uma época em que prometi pra mim mesmo que estudaria tapping e seria muito bom nisso. Mas depois de algumas tentativas e muitas frases descaradamente copiadas do Greg Howe, eu desisti e nunca mais voltei à ela. Outra técnica que sou ruim é em slide guitar.
Mas isso não me atordoou: aprendi nesses anos que você precisa encontrar o seu caminho e levá-lo adiante, colocando nele seu foco. Parece óbvio, mas muita gente acredita seriamente que precisa conhecer e ser mestre em todas as técnicas existentes no mundo. Vejo muito isso em meus alunos.


Allan Holdsworth diz que a música dele é "muito rock para os jazzistas e muito jazz para os rockeiros". Muitos acham que a música dele é "para músicos". Você teme que sua música possa vir a sofrer alguma rotulação desse tipo e que com isso atinja menos ouvintes/público?


Acredito que não! Pode até ser que no futuro eu componha um disco inteiro 'apenas para músicos', mas pelo que sinto, mesmo minhas músicas não sendo lá tão simples (principalmente na questão harmônica) as melodias são marcantes e cativam as pessoas, sendo elas músicos ou não! Não estou falando isso de forma egocêntrica, muito pelo contrário: fico muito surpreso em saber que uma grande parte dos fãs gostam dos meus temas não pelo apelo guitarrístico, mas sim pela melodia, pela música em si.
Engraçado, esses dias peguei minha mãe cantarolando um tema meu! rs
Acredito firmemente que podemos compor músicas instrumentais para guitarra, mais acessíveis, sem perder o apelo técnico da coisa e sem soar piegas. Joe Satriani faz isso de maneira espetacular!

Divertindo-se com uma Wolfie

Já lhe fiz umas oito perguntas e até agora não notei sequer uma vírgula fora do lugar. Você também era bom aluno na escola?

Obrigado, Vinnas. Bem, eu sempre gostei de português e procuro escrever corretamente. Eu não era muito bom em exatas rs.


Quais seus projetos em curto, médio e longo prazos? Fale sobre suas composições autorais. Podemos esperar para quando um CD?

O projeto principal é gravar um álbum-solo ano que vem e fazer turnês pelo Brasil, inicialmente.
Como já respondi na pergunta anterior, quero fazer com que meu álbum-solo soe acessível, sem perder o apelo guitarrístico. Claro que algumas músicas (tenho em mente duas) serão bem complexas, pois eu também gosto desse lado mais técnico da coisa. Mas sem excessos. Isso contribui para o equilíbrio do disco.
Esse ano ainda vou gravar pelo menos duas músicas novas e postar tanto na minha fanpage no Facebook (fb.com/AndreNieriOfficial) quanto no meu canal do Youtube (youtube.com/AndreNieri).

Você construiu uma fanbase publicando vídeos no YouTube - e vencendo muitos concursos. Percebo que muita gente tenta trilhar esse caminho, no entanto o conteúdo ora deixa a desejar, ora envereda por outros caminhos totalmente distantes da Música. Teria alguma sugestão ou dica para os aspirantes ao sucesso nessa nova mídia?


Bem, o meu foco sempre foi tocar e ser reconhecido pelo meu som. Vencer concursos expressivos te dá muita visibilidade: é uma ótima opção. Conheço muita gente que começou no Youtube focando no instrumento em si, mas depois migrou para reviews de equipamentos (o que dá muita visibilidade, realmente) e alguns passam a gravar vídeos comentando sobre assuntos diversos etc. Não vejo problema nisso, afinal eu mesmo já fiz alguns vídeo-demos, mas meu foco sempre foi o playing, pois é o que realmente me importo. 
Baba baby, baba!

Independente do que você se propuser a fazer, faça-o com amor, qualidade, ousadia, sem passar por cima do trabalho alheio e mantendo a postura correta. Assim, com certeza, tem muitas chances de se dar bem. Esteja preparado para as críticas: no Youtube é comum receber comentários não muito agradáveis, advindo de pessoas que não te conhecem e que muito menos te respeitam.
Mesmo assim, mantenha a postura civilizada e entenda que nem todos simpatizam com você. Não desanime diante desses detalhes.


A comunidade guitarristica (de Rock) é unânime em apontar 3 grandes pilares/turning points que foram Jimi, EVH e YJM. Isso entre 1968 e 1984. Já se vão quase 30 anos e a "4a onda" ainda não surgiu. Você acha que ainda vai aparecer outro trendsetter tão relevante? Ele já apareceu, mas ainda não foi "descoberto" como tal? Quem você acha que pode ter levado a guitarra a outro patamar nos últimos 29 anos?


Bom, não sabia muito desses 3 pilares. Mas levando em conta essa informação, sinceramente não sei te dizer. Fizeram uma pergunta semelhante ao Frank Gambale e ele respondeu: 'eu não tenho bola de cristal'. É realmente difícil dizer. A verdade é que quase impossível adivinhar se amanhã ou depois vai surgir um cara com tamanha expressividade e genialidade quanto esses que você citou. Eu espero que sim! Muitos citam Guthrie Govan como um cara que mudou o cenário guitarrístico e influenciou muita gente. Eu concordo, embora ele não tenha tanto apelo comercial quanto os outros citados.


Não é possível que o DNA tenha "lhe escolhido" assim do nada. Nieri é italiano, deve ter existido ao menos um virtuose do violino praquelas bandas uns 300 anos atrás. E sem histórico recente de músicos na família, você encontrou dificuldades em obter apoio para estudar e se tornar um profissional?

Nesse caso seria necessária uma pesquisa genealógica, hehe. Não tive muita dificuldade em obter apoio, pois como desenvolvi rápido, fui muito apoiado pelos meus pais e também por amigos e parentes. Tornei-me profissional aos 14, quando comecei a lecionar, e com 18 comecei a tocar na noite. Vi que era sim possível viver apenas de música.


Engraçado você ter falado no Grunge. Lembro de uma provocativa capas da revista Guitar World questionando "O Grunge matou a guitarra-rock?". Eu digo que escapei dele por alguns anos, porque quando virou mainstream eu já tinha sido doutrinado pela "guitarra técnica" da 2a metade dos 80s. No seu caso, o Grunge parece que não teve nenhum impacto nesse sentido, muito pelo contrário, considerando o alto nível técnico que você atingiu.

Fui apenas influenciado pela 'imagem' das bandas de grunge da época: via os clips e queria aquilo pra mim, aquela energia, estar no palco e tocar. Mas com relação à música em si, outras bandas me chamaram muito mais atenção na época, como Metallica, Iron Maiden, Guns'n'Roses etc., assim como os guitarristas super técnicos. Lembro da primeira vez que ouvi Malmsteen, foi inesquecível. Amigos diziam que ele era tão
Ainda bem que só foi a imagem...

rápido que não dava pra ver os dedos no vídeo rs. Eu fiquei nessa onda de 'guitarra pirotécnica' até mais ou menos uns 13 anos, depois enveredei para o jazz/mpb e entendi que a música era muito ampla e muito mais profunda que apenas 'músicas para guitarristas'. Foi quando abri a cabeça e descobri um novo mundo e passei a ouvir muitos outros estilos.

Eu tento seguir um princípio que é "pequenos detalhes, grandes diferenças". Você teria alguma sugestão para os demais guitarristas, algum "pulo do gato", algum detalhe que passe despercebido mas que possa fazer grandes diferenças?

Prezo pela inventidade, pela criação. A minha dica nesse sentido é: 'melhor procurar dentro de você do que em outro alguém'. Cada pessoa tem uma particularidade artística que precisa ser explorada. Lembre-se: seus ídolos são seus ídolos pois quando tocam, você os reconhece imediatamente. Pense nisso.


Nieri, agradeço o tempo dedicado a este humilde blog e desejo muito sucesso na sua carreira e peço que fale de seus projetos vindouros e que deixe uma mensagem a seus seguidores, fãs etc.

Eu que agradeço o convite, Vinnas. Meu projeto principal é a gravação do primeiro disco-solo, que com certeza acontecerá ano que vem. Se você, que está aí lendo, gosta do meu som e quiser entrar em contato comigo, é só acessar minha fanpage no facebook - facebook.com/AndreNieriOfficial- e deixar uma mensagem. Sem meus fãs, eu seria nada. Até mais!



(fotos: Facebook e site oficial do artista)

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