domingo, 10 de novembro de 2013

JULIO ANDRADE (The Baggios) - de São Cristóvão pro Mundo

O entrevistado de hoje é Júlio Andrade (Julico), guitarrista e mentor de uma das bandas mais bem-sucedidas surgidas nos domínios de Serigy, o duo The Baggios (com Gabriel Carvalho-bateria). Entrevistei-o pouco antes de a banda lançar-se em turnê pelo Brasil, divulgando o novo álbum “Sina”.

Além do talento musical natural, Júlio possui o senso prático que faz os artistas deslancharem, de modo que a banda sempre está produzindo mídia, tocando, viajando, enfim realimentando sua própria arte e “fazendo acontecer”.

Com a palavra, o guitarrista/cantor/compositor são-cristovense.


(Vinnas) Quando e por que você começou a tocar guitarra? Algum show ou vídeo a que assistiu, algo do tipo?
(Júlio) O interesse veio conforme eu ia descobrindo mais bandas de rock. Eu ganhei meu primeiro violão aos 14 anos e ouvia muito grunge e punk rock. Acho que é natural desejar uma guitarra quando se está interessado em aprender as músicas de bandas como Nirvana, Sonic Youth e Ramones. Eu juntei uma grana trabalhando numa locadora de videogames e finalmente consegui comprar minha primeira guitarra em 2001.

Você teve algum estudo formal de guitarra/Música?
Eu aprendi basicamente tirando música de ouvido. Claro que pegava algumas dicas com amigos que tocavam muito mais que eu. Mas quando eu comecei a ter noção de como tirar as músicas das bandas que curtia de ouvido, tudo mudou. Até hoje não sei ler partitura, e não acho que isso me faz falta. O blues me ensinou muito.

Quem são suas influências (guitarra, vocal e compositores)?
Minhas primeiras influências na guitarra foram Johnny Ramone e Kurt Cobain. Eu precisava começar tocando algo simples e esses caras conseguiam fazer riffs geniais com poucos acordes, e eu sou grato a eles. Mas eu levei guitarra mais a sério quando eu descobri Jimi Hendrix, Alvin Lee, Johnny Winter, Iommi e Page. O Hendrix e Page me fez entender o que é feeling e me levou ao blues. Passava horas tentando aprender riffs de músicas como “Freedom”, “Communication Breakdown”. Hoje em dia eles continuam me influenciando pra falar, mas acredito que hoje em dia to numa fase mais Iommi, riffs pesados e diretos.


Acho que como compositor, posso citar nomes brasileiros que me encorajaram a escrever letras em português, como Raul Seixas, Arnaud Rodrigues, Zé Rodrix, Tim Maia, Jorge Ben.


Você também passou pela fase “Iron Maiden/Metallica”?
Já ouvi, mas nunca fui muito fissurado. Conheço pra valer os três primeiros discos do Metallica, da era Cliff Burton. Quem nunca quis aprender o riff de “Seek and Destroy” ou de “The Trooper”?! Mas não acho que essas bandas foram importantes para minha formação musical.

Quando alguém monta um power-trio é imediata a associação a um dos grandes: Rush, Cream, Police etc. E um power-duo? De que fonte a banda bebeu pra fechar nessa formação?
A banda tem essa formação, mas foi por acidente. Toco em bandas desde 2001, e todas elas deram erradas por falta de compromisso. Não levavam música a sério. E só tinha um amigo meu que tava afim, daí resolvemos ir para o estúdio em 2004 experimentar e matar a secura. Na época conhecia bandas como White Stripes, Black Keys, Jon Spencer Blues Explosion, que não usavam baixo e isso nos instigou ainda mais. Hoje em dia gosto muito do Seasick Steve, Left Lance Cruiser e Daniel Norgren, que já tiveram suas fases como duo, mas que hoje experimentam outros formatos.

Em geral os power-trios tendem a preencher os espaços ao máximo, pra compensar a “falta de gente”. O Police tinha o polvo “Copeland”, o Rush tem...os três (mas Alex Lifeson inovou com voicings dissonantes, usando as 6 cordas). A Baggios (vale pro batera também) usa algum artifício do tipo?
Basicamente usamos uma guitarra ligada em um amp de guitarra e um outro sinal vai oitavado para um amp de baixo. Acho que o segredo mesmo está no formato das músicas, pois crio elas pensando no formato da banda, então os riffs que faço e a execução de Gabriel em cima deles, faz do nosso som, algo simples, porém impactante.

Que guitarras, amps e efeitos você usou no novo CD? E ao vivo, o que vem usando?
Usei em 80% do disco uma guitarra semi-acústica Hagstrom, uma marca alemã que faz guitarras lindas desde a década de 60. Pra mim é a melhor guitarra que tenho, e o mais legal é que não paguei caro. No disco usei muito fuzz. Experimentei o fuzz face em algumas faixas, O Sunface da Analogman, Bigmuff, e o FZ-5 da boss.

De amplificador eu usei em grande parte o Fender Deluxe Reverb e o Orange Thunderverb juntos. São dois amplificadores que me dou muito bem, apesar de preferir os fenders ao vivo, pois curto amp limpo. Acho que o fuzz tem um som mais lindão com eles.

Ao vivo eu uso o Wah da Vox, Big Muff, FZ5, Memory Boy, OC3 e um clone do Direct Drive.


Você faz parte de outras bandas. O que muda em relação a seu set-up “Baggio”? E quanto à forma de tocar ou timbrar?
Toquei durante 4 anos na plástico Lunar. Minha pegada era outra, tinha uma veia mais Hendrix e usava Stratocaster. As músicas que fiz para banda, são mais complexas, com muito mais riffs. Gostava muito de tocar com eles, pois além de ser fã, os caras são ótimos músicos e eu tinha muito espaço para solo, e isso é algo que não exploro muito com o The Baggios.

Fale sobre a gravação do novo CD. Alguma preparação especial antes de entrar no estúdio? Houve overdubs e double-tracking?
Passamos mais de um ano trabalhando nas músicas deste disco. O processo de pré-produção foi longo, gravávamos quase todos os ensaios, estudávamos as músicas, e isso ajudou muito a fazer com que as músicas soassem mais maduras e seguras. Quando entramos no estúdio já sabíamos qual bateria usar, amps, guitarras, e poupou tempo pois estávamos seguro com todas as músicas.  
Eu costumo fazer overdubs nas guitarras e na voz. Me amarro em dobrar voz, me sinto mais seguro fazendo isso. E também fiz algumas dobras em pequenos solos do disco.

Você ainda mora em Sergipe? Já pensou em se mudar para um grande centro a fim de obter mais visibilidade ou “estar mais perto”?
No momento moro em São Cristóvão, onde nasci e morei toda minha vida. Acho que no momento não estou seguro se quero morar fora, pois estamos sempre viajando, e essa sensação de voltar pra casa é legal, saca? Eu acho que é legal experimentar passar temporadas em cidades como São Paulo, por exemplo, onde se concentra os grandes festivais, grandes jornais e produtores articulados. Estamos com o plano de passar um período mais longo por lá, pois quando vamos passamos 2 a 3 semanas no máximo.

E essas camisas listradas, é influência de Pat Metheny?
Não foi algo pensado, sou meio desapegado com visual, mas eu gosto de uma camisa listrada e a uso em boa partes dos shows. Acho que acabou sendo uma marca registrada, mas não foi influencia de ninguém não. Eu nem conheço pra valer o trampo do Pat. (risos) 

Metheny: fã de listras, desde sempre
Deixe uma mensagem para os fãs, presentes e futuros.
Eu sou grato a todos que nos apoiam nesses quase 10 anos de banda. Eu essencial para gente, ter pessoas que escrevem depoimentos empolgados sobre nossos discos, ou shows. Eles realmente curtem o que fazemos e nos sentimos especial por ter tanta gente que nos ajuda, seja marcando presença nos shows, escrevendo resenhas. Somos gratos a nossos amigos que nos ajudam seja produzindo um disco, uma foto ou um clipe.

Quem não conhece nosso trabalho, acessa http://site.thebaggios.com.br/, conheça um pouco da nossa música e baixe “Sina”, pois esse é o melhor trabalho que já pude produzir nos 12 anos de guitarra.


Coletânea de Links

O site oficial é muito bem-feito, recheado de videos, fotos, músicas etc. De modo que hoje, a coletânea é de um só. Vale a pena a visita, tudo tem muita qualidade de design, video, audio, enfim: um festival pros olhos e ouvidos!


(créditos das fotos: Snapic)




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