Bem-vindo!
Bem vindo ao meu blog. Sou guitarrista e
compositor autodidata desde o final dos anos 80 e aqui pretendo
falar, principalmente, de guitarras e Música. No entanto, a exemplo
do meu amigo Dr. Hugo Ribeiro, pretendo fazer deste espaço também
uma cápsula do tempo, na qual possa deixar registrados pensamentos,
opiniões e instantâneos de minha vida. Para usufruto de meus
descendentes e de mim mesmo, afinal a memória é curta e volátil.
Ao longo dos posts surgirão referências a pessoas, locais e
eventos, e espero, que elas possam contribuir com os escassos
registros duradouros da atividade musical no estado de Sergipe. Acho
triste o fato de que muitos pioneiros que marcaram
a cena local, como Benezão (guitarrista, já falecido), Orlandinho e Nandika (guitarristas), só para citar alguns, possam restar desconhecidos das novas gerações, porque não legaram registros
fonográficos e/ou audiovisuais consistentes ou porque ainda não
fazem uso intenso das ferramentas modernas de mídia como Youtube e redes
sociais. Almejo também conseguir registrar e divulgar em meus canais no Youtube e Vimeo - com boa qualidade de áudio e vídeo - depoimentos e performances desses músicos, como pesquisa e legado para as gerações futuras.
1970-1988 - Prólogo
Nasci em Aracaju, em 1970. Minha lembrança musical mais antigas é a de ouvir muito um LP que meu tio Célio
tocava à exaustão quando eu era criança, o “Love Island” de
Eumir Deodato. Havia nele vários solos, com bends e muitos outros
truques clássicos dos guitarristas, executado por um americano de
quem pouco se fala chamado John Tropea (que no entanto é um dos músicos mais conhecidos da cena de NY). Outra lembrança é a de, em
uma das muitas casas que meu tio Joubert morou durante os 70´s,
ficar brincando com o violão dele, desafinando as cordas para tocar
“Asa Branca” só com cordas abertas, sem precisar digitar no
braço. No entanto, e embora não me lembre disso, meus pais falam
que com cerca de 3 anos eu cantava um sucesso de Márcio Greick e
hinos da Igreja. O grande interesse por tocar Música, contudo, veio
de fato quando assisti maravilhado a um show de “A Cor do Som” na Praça
Fausto Cardoso, em 1981 (ou 82). Depois desse show fiquei fã da banda e resolvi que iria
aprender a tocar guitarra. Mas foi somente em 1985 que ganhei um violãozinho Giannini comprado no
G. Barbosa, e após breves 4 meses como aluno de violão da Escola Carlos Gomes, do
prof. Eribaldo Glébison (meu professor era Willame, músico de uma banda de
baile chamada “Embalo D” - o “D” é porque a banda era de N.
Sra. Das Dores), passei a conduzir meu aprendizado de modo essencialmente autodidata,
tirando “de ouvido” e depois juntando os pedaços de lições e
transcrições publicadas nas revistas Guitar World, Guitar Player e
Guitar for The Practicing Musician (esta já extinta, mas tinha
ótimas transcrições). Tive a sorte de ter me interessado pelo rock
numa época (1986 a 1990) em que se exigia dos músicos muita
técnica, o que me fez evoluir como instrumentista (pouco depois o
movimento Grunge viria a abafar muito essa tendência). Isto permitiu
minha posterior adaptação a outros estilos. Atualmente, pode-se
dizer que meu som é principalmente um mix de rock com influências
de MPB, pop e fusion.
1989-1994 “foot on the road”
Toquei na banda Hemisferios entre 1990 até 1994,
com breve retorno em 2004 (para um show somente). Lembro de como foi
o início da banda: eu tocava na banda Trem Fantasma, que compartilhava o
mesmo baterista, Fernando Bueno, com a banda Filhos da Crise, liderada por Zé Milton, baixista de grande talento. Estávamos assistindo a um show na Praça Camerino, numa
“concha acústica” que havia num dos cantos da praça. Na
verdade, uma base circular de concreto, elevada do solo uns 50
cm e onde as bandas da época tocavam. Lá e nos bares do dito "Baixo Barão" assisti a muitos shows de bandas como Fome Africana, Alice e Crove Horrorshow - esta última influenciou muitas outras e felizmente ainda está na ativa, e prestes a lançar um CD chamado "Depois do Rock". Entre as músicas do tal show, falamos sobre juntar forças numa nova banda, na qual tocaríamos principalmente as difíceis músicas do
Rush, power-trio canadanse que admirávamos. E foi assim que,
já em 1990, o Hemisferios em sua formação inicial fez alguns shows que ficaram na memória de muita
gente: na recém-inaugurada casa de shows Augustu´s, no clube da
CEF numa festa do colégio Visão, no pátio do Colégio Arquidiocesano, dentre outros. Em 1991
Fernando se muda para Salvador, e convidamos Alex Tavernard para
substituí-lo. Em março de 1992 gravamos uma demo com 4 músicas: Funk do
César, Generais, Sonhos e Dor e a instrumental Volta ao Mundo em 80
segundos. Ainda em 1992 convidamos Eduardo “Dunga” para a outra
guitarra. A formação em quarteto durou pouco mas fez muitos shows,
notadamente no Parque dos Cajueiros, no Colégio Graccho, na AABB de Lagarto, dentre outros. Em dezembro, estávamos de volta
à formação em trio, foi quando participamos do inesquecível
festival Ponta de Mar, organizado por Neu Fontes e Jorgival Porto, de
cuja programação constaram os locais Chris Emmel, Desvio-Padrão,
além de Djavan, Biquini Cavadão, dentre muitos outros artistas de
relevância na Época.
Em 1991 ou 92, não tenho certeza,
fui convidado para acompanhar o cantor Henrique Teles em seu trabalho
autoral, que viria a se tornar depois a banda Maria Scombona. O som ainda não tinha a
característica rock/funk que adquiriu depois, e eu utilizava timbres
limpos a maior parte do tempo. Henrique tocava violão, eu na
guitarra, apareciam uns percussionistas como Fábio (professor de Geografia, hoje
toca na A Casa do Zé), Zé Mário e Pepy (irmão de Antônio
Rogério), um flautista chamado João Vianney (hoje médico),
eventualmente Peninha (que eu conheci como jogador de Basquete do Arquidiocesano) participava de alguns shows tocando uma semi-acústica e no
baixo, Emerson Olivier, em cuja casa ensaiávamos aos sábados de
tarde. Foi o 1o contato que tive com MPB, mesmo tocando
guitarra (uma Superstrat!). Eram músicas mais
reflexivas/climáticas, como “Farol de Ferro”, “Pela Barão”,
“Medo”, “Sobra” (música premiada em festival que cantava a saga de um
nordestino que foi ao 1o Rock in Rio, quando o evento ainda nem
sonhava em ser a marca/franquia milionária que é hoje). Fazíamos
muitos ensaios, porém poucos shows, o que em certo ponto começou a
me desanimar. Não obstante, fiz com eles alguns shows interessantes,
como no Cultart/UFS e no Festival de Arte Alternativa de Olinda
(1992). Fiquei na banda até 1994, quando tirei uma folga geral da
Música por alguns meses, para conseguir concluir o curso de Química
Industrial.
Em 1993 o Hemisferios desacelerou um pouco sua
agenda de shows e comecei a flertar mais com o trabalho free-lancer.
Fui convidado a participar de um combo interessante: Daniela
Biller (cantora e compositora, hoje médica), Wellington Mendes
(trompetista) e Márcio André (cantor e compositor, hoje professor e
membro da Naurêa). Daniela e Márcio tinham muitas composições, e
inscrevemos algumas delas em um grande Festival promovido pelo C.A. de Medicina da
UFS, o FEMUFS. Eu tocando guitarra/violão, Wellington tocando flauta
e teclados, Márcio e Daniela cantando. Uma música de Márcio em
estilo trova medieval venceu vários prêmios, e Daniela foi eleita
melhor intérprete. Do mesmo Festival participaram importantes nomes
da cena local, a exemplo de Henrique Teles, Rubens Lisboa e Rivando
Góes (hoje apreentador da TV Sergipe), e o encerramento cabia a
bandas conhecidas nacionalmente, a exemplo do IRA! Para o mesmo
evento, fui convidado a participar de um interessante projeto chamado
Coloured Funk, que recriava clássicos da soul music americana. O
fato curioso era o contraste entre as duas vozes principais: Charles,
um cara de 1,90 m egresso do cenário punk local e Tânia Sevla,
cantora e atriz de corpo pequenino porém de voz e presença
marcantes. Participavam ainda do projeto o baixista Bira, o
tecladista Luis Fábio (posteriormente integrante da banda Java), o
baterista Rômulo Filho, o ator e percussionista Cyborg, a quem mais
tarde reencontraria na Sulanca e o guitarrista Fábio "Gordinho",
também egresso da cena punk/hardcore, mas que nesse projeto se
encarragava das bases clean, enquanto eu cuidava dos timbres distorcidos e solos. A banda teve curta duração,
apresentando-se apenas mais uma ou duas vezes, uma delas inclusive no Festival de Arte de São Cristóvão daquele ano. Seguindo a praxe da
maioria das bandas e projetos, de todo lugar e em todos os tempos,
não existe um “final formal”, como existe um início
formal - geralmente uma reunião. As pessoas simplesmente deixam de se
telefonar, de se encontrar, embarcam em outros projetos e o final
daquele é simplesmente assumido e aceito por todos. É um pouco
melancólico e triste, mas é assim que as coisas são.
Em 1994 abriu em Aracaju uma nova loja de
instrumentos chamada Pro-Sound ou algo do tipo. Ficava na Av. Gonçalo
Rollemberg, quase vizinho à antiga sede do Instituto Canadá.
Frequentando a loja, conheci o vendedor e tecladista Robert Wagner,
conhecido como “Robinho”, um cara muito talentoso que também tocava contrabaixo e compunha uns instrumentais. Numa dessas visitas
à loja reencontrei Wellington, que iniciava uma parceria com Robinho
e da qual nasceriam várias músicas legais, como “Amanhecer” e
“Ninfeta”. Era o início do “Graal”, banda instrumental da
qual participei e que muito contribuiu em minha formação. Era formada por Wellington (além de trompetista, exímio pintor e desenhista), Robinho, Melcíades (baixista, além de exímio pintor e arquiteto), Rominho (bateria), Rony Medeiros (percussão, a quem mais tarde
reencontraria na Sulanca) e eu. No repertório, além das músicas
autorais, muitas músicas de jazz, embora nada muito casca-grossa,
tendendo mais ao pop-jazz de Chuck Mangioni e Santana. Foram poucos
meses com eles, acho que de fevereiro até julho de 1994, mas muito
proveitosos quanto ao ganho de conhecimento, principalmente por
influência de Wellington. Egresso do Heavy Metal como eu era, meu
conhecimento de harmonia era limitado aos power chords e aos ditos
“bolachões” (acordes perfeitos). As músicas da banda me
colocaram em contato com a harmonia de jazz: acordes diminutos, alterados,
aumentados, etc (embora meus voicings fossem ainda os básicos, os que
“ficam brigando” com os tecladistas). Sem falar que, embora eu não
soubesse improvisar, o fato de ter que compor meus solos melhorou meus conhecimentos de composição e arranjo, ainda que pela prática e observação. Um momento marcante foi quando fizemos
um show na área central térrea do Shopping Riomar, cerca de 10 dias
após a morte trágica do mito Ayrton Senna, e tocamos uma versão
mais lenta do “Tema da Vitória”, arranjada para guitarra-solo e
teclados (fazendo a “cama”). Ao final da música fomos
ovacionados pelas pessoas que, a esta altura, já se amontoavam nos
parapeitos do andar superior. No segundo semestre de 1994 necessitei
dar um tempo da Música, pois entrei no estágio curricular
obrigatório do curso de Química Industrial da UFS e passava o dia
inteiro na FAFEN, em Laranjeiras. Por este motivo tive de sair de
todas as bandas de que participava na época: Hemisferios, Graal e
Maria Scombona. Não lembro se o Graal continuou as atividades, mas
guardo muito boas lembranças deles, principalmente pela “imersão”
em estilos até então desconhecidos.
1995-2001 "Studio City"
Em 1995, já formado – e sem
emprego na área – comecei, sem muito compromisso, a participar de
alguns combos, pois em 1994 o Hemisferios (com Rominho na bateria)
praticamente encerrou atividades após melancólica apresentação no Espaço Batata Quente, na orla de Atalaia, abrindo show do bluesman
baiano Álvaro Assmar: era ainda a 3a ou 4a
música e meus comparsas de banda abandonam o palco, me deixando
sozinho. Eu, minha guitarra e a platéia. Rominho se queixando de dor
na coluna, Zé Milton com dor no antebraço direito (como
se uma cãibra). Não falamos disso depois, mas talvez tenha sido um protesto velado à reação um pouco fria da plateia. Especulação, no entanto. Bem, um desses eventos foi uma quermesse, na qual me juntei com uns
amigos que frequentavam a Igreja Sagrado Coração de Jesus, no
Grageru. Todos eles crias do rock-pop, tocavam Legião Urbana e etc
enquanto eu ficava solando uns contrapontos, preenchendo espaços.
Fui visto por alguém que participava de uma banda de baile chamada
Aquarius, e pouco depois o líder dessa banda me convidou a tocar com
eles em um show/baile no finado clube ATPN. Fui sem ensaiar e sem conhecer
quase nada, mas tocaram algumas coisas de Santana, eu fiz alguns
solos e deu tudo certo no final.
Ainda em 1995 fui convidado a integrar uma
formação mais profissional do grupo Aquarius, agora batizado de Água Viva e capitaneado por Vertinho, e com eles viria a fazer muitos shows e bailes pela
capital e interior do estado de Sergipe, com algumas incursões
também a AL e BA (Penedo, Maceió, Arapiraca, Paulo Afonso). Em 1996 o
grupo resolveu aproveitar o boom de estúdios profissionais
proporcionado pela utilização de ADATs e computadores e gravar seu
1o CD, composto por versões de músicas da Jovem Guarda,
dos Pholhas, alguns one-hit wonders também. Enfim, um registro em CD
de parte do repertório de shows. O disco foi produzido pelo famoso
tecladista Carlinhos Menezes, e contou com a participação do
lendário baixista, agora de saudosa memória, Gilson Batata, um dos músicos mais fantásticos com quem toquei até hoje. Curioso que, nas
1as sessões de gravação, a "panelinha de Carlinhos" compareceu em peso:
Gilson, Roberto César (bateria) e Vigu (guitarrista). Como
o baterista da banda era o seguro e competente Carlinhos Santana
(ex-Antônio Carlos Du Aracaju), e eu estava bem afiado nas guitarras
“rockeiras”, algo até então ainda um tanto raro na Aracaju
Studiocity, a participação de Roberto e Vigu foi logo descartada. O
baixista do Água, contudo, era Gilberto Machado (irmão de Tadeu
Machado), que no estúdio não ficou muito seguro e, sendo figura muito dócil, cedeu sua
participação ao poderoso Gilson sem maiores conflitos ou
desgastes. As sessões de gravação, no estúdio AV (hoje estúdio
3), foram uma grande oportunidade de interagir com outros produtores
e músicos da época: o próprio Carlinhos Menezes, Jorge Ducci,
mentor da banda Sulanca (que viria a se materializar em 1997) e Rubens
Lisboa, que na ocasião iniciava as gravações do seu hoje
antológico 1o CD, “Assim Meio de Lua”, produzido por
Diogo Montalvão e do qual vim a participar tocando em várias faixas
e até produzindo uma música: “Dialogando”, a primeira de muitas
parcerias entre Irmão (R.I.P.) e Tonho Baixinho, originalmente um samba-bossa
e que transformei num rock com pitadas de Extreme e Pearl Jam. Tudo
isso justificado pela presença de Chris Emmel, cantora de vocal
potente e forte inflexão blueseira. Foi também minha 1a sessão como arranjador/produtor. Um detalhe curioso sobre minha participação nesse álbum: na AV havia
um quadro com as pautas de gravação, e eu sempre via os horários
de Rubens, antes ou depois dos do Água Viva, mas nunca o encontrava de
fato no estúdio. Já o conhecia (ele foi um dos organizadores do
Festi-Livre, um festival que teve umas 3 edições na virada dos 80´s
pros 90´s), talvez não o suficiente para ligar e oferecer meus
serviços, mas foi o que fiz, me achando o próprio
Steve Lukather. A parceria felizmente vingou e gravei com ele outros CDs ao longo dos anos. Além
disso, abriram-se portas para gravações e shows com outros artistas locais como Paulo Lobo,
Mingo Santana, Minho San-Liver, Célia Gil, Nery (R.I.P.), Nino Karvan dentre
outros. Era um momento muito fértil, pois de repente “gravar um CD”
tornou-se algo acessível, cômodo e barato, não se precisava mais viajar até
Recife ou Salvador e gravar um disco “nas carreiras” em 4 ou 5
dias, como era hábito até então. Dei a sorte de presenciar esse
boom e participar dele. Ficaria ainda no Água Viva até 2001. A música em si não me atraia muito (calcada na Jovem Guarda, embora com algumas concessões a bandas mais recentes), afora as cansativas viagens de van e os bailes de mais de 4 horas de duração. Mas eu, sendo o mais novo do grupo, me divertia com a empolgação do pessoal com a estrada, alguns deles veteranos como Marisa Lott (tecladista) e Pythiu (carismático baixista e também artista plástico talentoso, além de um dos pioneiros do Rock sergipano com a banda "The Tops") e não obstante esbanjando energia.
Com a banda Água Viva no Augustu´s, abrindo para Renato & seus Blue Caps (1997) |
Toquei na banda Sulanca de 1997, ano de sua
fundação, até 2001, uma grande escola na qual pude interagir com
grandes músicos como Hugo Ribeiro, Álvaro Alexandre (guitarristas);
Gilson Batata, Moabe Hasém e Robson Souza (baixistas); Rafael Jr., JúlioFonseca, Pedro Mendonça, Tom Toy, Anderson Batista (percussão),
dentre outros. O ápice dessa GIG foi uma turnê pelo Estado
de São Paulo, cerca de 20 shows em menos de um
mês (dezembro de 2000). Mas trataremos disso posteriormente.
Obrigado pela visita e até breve!
Obrigado pela visita e até breve!
Valeu Vinnas!
ResponderExcluirREalmente nostalgico o seu depoimento!
Abraços!
Continue... Estou aguardando o restante da história.
ResponderExcluirBacana essa documentação Marcus, parabéns!
ResponderExcluirÉ super importante documentar, continui aí!
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