sábado, 21 de setembro de 2013

THIAGO RIBEIRO (Toco Y Me Voy)

No mês de setembro/13 passei 2 dias em Salvador, hospedado na casa de Thiago Ribeiro, um sobrado – construído há uns 90 anos, segundo ele – encravado no coração do bairro de Brotas. No andar térreo Thiago pilota seu Estúdio Carranca SSA, cuja sala de ensaios/gravação possui uma das melhores acústicas que já ouvi. Chegando lá no meio da tarde de uma quarta-feira, conheci seu projeto “Toco Y Me Voy”, que ensaiava naquele momento. A descrição oficial (conforme perfil no Facebook) é esta:

A TOCO Y ME VOY é formada por:
Thiago Ribeiro, compositor, guitarrista e vocalista, natural de Aracaju, músico e produtor de artistas como Scambo (SSA), Val Macambira(SSA), Maracatu Bizoro Avoador (SSA), Patrícia Polayne (SE), Maria Scombona (SE) e de seu projeto solo intitulado FRAGMENTADA, lançado em 2010. Formado em Composição pela UFBA, foi ganhador do prêmio de melhor arranjo no VII Festival de Música Educadora FM Salvador com a música "Sombra" de sua autoria.
Daniel Neto, acordeonista, natural de Ilhéus/BA, estudante de Composição – UFBA, vencedor do 5º Festival de Sanfoneiros de Feira de Santana com o prêmio de Júri Popular e Destaque Especial do Júri Técnico. Também foi premiado com a quadrilha junina Asa Branca no 8° Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, realizado no Tocantins.
Gustavo Marimbá, baixista, natural de Florianópolis, trabalhou com bandas como Maracatu Bizoro Avoador e Marimbá. Diretor musical do CD “Cada Cabeça É Um Santo” da Banda Soteropolitanos e do CD “Depois da Ilha” de Bruno Aragão.
Ricardo Flocos, baterista, natural de Salvador, músico atuante na cena soteropolitana, trabalhou com bandas como Galvão (Novos Baianos), Abel do Ere, Yure da Cunha (Angola) e Scambo.
Descrição
Sons vindos de berços musicais distintos, com sotaques carregados na mochila da história de quatro músicos se fundem em um projeto criativo, multicultural e divertido intitulado TOCO Y ME VOY.
A banda traz em sua essência a fusão musical, a liberdade de combinar ritmos e estilos diversos e em busca de uma música sincera, genuinamente brasileira, que represente a particularidade de cada componente e a universalidade da música contemporânea. 

The Red Beetle

No dia seguinte fui a uma gig num espaço no Rio Vermelho. Percebi nesse show pelo menos uns 20 estilos e ritmos diferentes, tudo a serviço da boa Música. Um som espontâneo, bem tocado, bem produzido, diferente e original. Uma world music do cabrunco!

Vamos saber mais sobre o cantor, compositor, guitarrista, arranjador e produtor aracajuano, sua carreira e e seus projetos:

Marcus Vinicius: Thiago, dividimos o palco em março de 1991, num festival de bandas no Teatro Atheneu, todo mundo garoto ainda. No ano seguinte vi a Desvio Padrão no Festival Ponta de Mar, a banda coesa e você arrebentando, cantando Pearl Jam. Depois disso nosso contato ficou mais esparso, porém sempre muito rico, como quando fomos sidemen de Rubens Lisboa no Yazigi Acoustic Sessions e em 2003, quando pegamos 24 h de busão Aju-Fortaleza para a Feira da Música, eu na banda-base dos artistas locais e você na Maria Scombona. Quais caminhos musicais você trilhou nesses últimos 20 anos?

Thiago Ribeiro: Pois é, foi exatamente em 1991 que comecei a tocar guitarra! Começar com a Desvio Padrão foi maravilhoso! Éramos uma banda de verdade! Éramos jovens, amigos, musicais, criativos e a banda nos permitiu dar vazão a tudo isso! Fomos contaminados pelo processo de criação musical em grupo e, de uma maneira bem intuitiva, nos transformamos em músicos! Foi o início de tudo!

Desde então mudei para Salvador, trabalhei com vários artistas da Bahia e de Aracaju como guitarrista, violonista e arranjador. Em 1996 fui morar na Inglaterra onde estudei guitarra na antiga Musicians Institute, hoje London Music School. Toquei em pubs, casas noturnas, estações de metrô e como músico de rua em alguns países da Europa. Mudei para Granada/ Espanha onde estudei flamenco com um dos guitarristas atuantes na cena local chamado José Maria.

Voltei para o Brasil em 1999, montei o Estúdio Carranca SSA em 2001, mais ou menos, me formei em Composição pela UFBA em 2007 e desde então trabalho com produção musical, arranjo, gravação e mixagem. Lancei meu primeiro trabalho autoral intitulado Fragmentada em 2010 e em Novembro de 2012 lancei meu novo projeto Toco Y Me Voy.

Com a Maria Scombona, 2003
Quem são suas influências? Considerando: 1) Compositores; 2) Cantores; 3) Guitarristas.

Quanto às influências... Tudo que me diz alguma coisa, me influencia de alguma maneira! Tentando ser específico, vamos lá:

Compositores: Renato Russo, Cazuza, Chico, Caetano e Gil (pra variar), Alceu Valença, Luís Gonzaga, Jimmy Page, John Paul Jones, etc.

Cantores: Renato Russo, Eddie Vedder, Jeff Buckley, Bruce Springsteen, etc.

Guitarristas: Jimmy Page, Eric Clapton, Michael Hedges, Eric Roche (N.R.: Eric, falecido em 2005, foi professor de Thiago no M.I. A música ERIC, gravada por Guthrie Govan no álbum Erotic Cakes, é dedicada a ele), Pat Metheny, Paco de Lucía, Tomatito, Django Reinhardt, etc.

Você viveu a música informal primeiro para depois viver a formal. No entanto sua música soa muito experimental e autodidata. Que papel a Academia teve na sua formação? Fez diferença você ter concluído o curso? (N.R.: muitos músicos e artistas baianos conhecidos passaram pela Escola de Música da UFBA sem, no entanto, terminarem a graduação).

Acho que a Academia me deu mais artifícios para traduzir meu processo criativo musical e melhorou consideravelmente minha comunicação dentro desse universo. Mas a maneira de compor que me é mais natural continua sendo a mesma, ela surge! As canções simplesmente vêm na cabeça. Daí entra o estudo pra estruturar esse impulso criativo. Mas sempre opto por não rebuscar demais! Talvez por isso minha música soe tão experimental e autodidata pra você, porque tenho um compromisso com esse momento da criação e tento manter esse frescor e essa espontaneidade até o resultado final.

As composições do TYMV são todas de sua autoria? Que influências a banda tem? E por que a aposta na “world music/alternative”? (com o perdão por rotular).

Sim, as músicas são minhas e algumas em parceria com a banda. Na verdade o “world music” é um resultado da linha de trabalho da TOCO Y ME VOY. Ou seja, quando chego com uma música nova, espero que cada componente imprima suas características, suas influências nela afinal de contas somos um banda! Resultou nesse som cosmopolita e experimental.

Ouvindo as músicas da TYMV notei um caldeirão imenso de ritmos, muitos apenas sugeridos durante poucos segundos, como se o ouvinte tivesse de “garimpar” pra descobrir. Nos vocais, os backings o são de fato, ocupando um plano bem “dentro” do som. A sutileza é uma característica de seu trabalho? Poderia falar mais sobre isso?

Os arranjos da TOCO Y ME VOY brincam com a proximidade que existe entre os ritmos de diversas partes do Brasil e do mundo. Tentamos traçar um paralelo entre diferentes estilos sem que soe forçado ou pouco natural. Nesse caso a sutileza é importante porque ela sugere mais do que define cada estilo. Tentamos também executar ao vivo algo bem próximo do que se ouve no CD por isso os vocais são tão “dentro do som”, já que os outros 3 componentes da banda não são cantores.

No show no Rio Vermelho vi poucos - porém muito entusiasmados - fãs. Qual a estratégia da TYMV para angariar mais fãs?Como você vê o cenário atual para os artistas que nadam contra a maré como a TYMV? Ainda é possível/desejável apostar nas formas tradicionais de mídia, como Rádio e TV?

Toco Y Me Voy, 2012
A estratégia atual da TOCO Y ME VOY é fazer um monte de shows, enquanto for possível e divertido! “O artista tem de estar onde o povo está”; criar movimentos artísticos musicais com outras bandas e artistas é uma boa estratégia também, pois fortalece o seu projeto e o dos parceiros; usar e abusar da Internet como a maior ferramenta de divulgação dos artistas independentes como a TOCO Y ME VOY; tocar no rádio, na TV, no elevador, na música ambiente! Kkk! Acho também que nadar contra a maré é fazer o que não sabe ou o que não gosta! Se você é artista, você faz arte porque precisa, antes de qualquer outra coisa! 

Seu vocal me soa um pouco como Eddie Vedder/Jeff Buckley, e talvez seja o elemento “rock” ainda mais forte no som que você faz hoje. Sem no entanto os “excessos dramáticos” (do segundo principalmente). Soar mais “sob controle” ajuda a destacar as letras, em minha opinião. Você poderia falar mais sobre isso?

Obrigado pelas comparações, eu realmente ouvi bastante os dois, kkk! Acho que cheguei a um ponto hoje como cantor e artista que consegui combinar esse mundo de influências em uma linguagem que me é natural. As influências estão lá sim, mas de uma maneira sutil e transformada. A TOCO Y ME VOY carrega essas influências mas de uma maneira mais madura, mais leve também! Aliás, a leveza é um dos pilares do projeto talvez por isso o “drama” a que se referiu não esteja tão presente.

Vi que você usa uma “Frankentele” com escala de Les Paul (N.R.: de comprimento 24,75” contra o padrão original de 25,5”). Por que a opção por uma guitarra digamos, diferente? Você não liga, como a maioria dos guitarristas, para as “marcas de grife”?

Adoro Fenders e Gibsons!! Mas a busca por uma sonoridade e visual diferentes é o que me estimulou a montar a Frankentele”. Cada guitarra tem suas características que interferem diretamente na minha maneira de tocar e até pensar a música. Com a “Frankentele”, uso cordas 0.11 (porque uso muita scordatura e slide - N.R.: scordatura é o termo em italiano para afinações alternativas) e isso me obriga a tocar com mais pegada!

Você passou pela fase “8 h/dia trancado tirando solos de Jimi/Van Halen/Malmsteen etc?” E hoje, mantém alguma rotina de estudos/prática de guitarra (ou de outros instrumentos)?

Passei algo parecido! Mas ouvindo blues, Muddy Waters, Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, um pouco de Metallica, Megadeth, Led Zeppelin, George Benson, Pat Metheny, Tomatito, Paco, etc. Nunca tive muito saco para tirar solos, kk! Passava muito tempo com a guitarra tocando, criando, descobrindo mais do que copiando!

Notei bandolim em algumas músicas (ou seria o primo americano?), cujo timbre contribui com a leveza já citada. Muitos guitarristas já o utilizaram, porém em detalhes de músicas (como Steve Howe, do Yes). Você o trouxe mais "pra frente" do contexto. Como e por que a associação com esse instrumento?

É um bandolim sim, o detalhe é que toco como um banjo!! Foi apelidado de "banjolim" por isso! Primeiro pelo mesmo motivo da "Frankentele", a busca por outras sonoridades e segundo porque, como sou muito limitado com "banjolinista", comecei a compor de uma maneira mais simples e gostei disso!

Como é manter um excelente estúdio de gravação numa época em que todo mundo quer gravar tudo em casa, e a venda de CDs deixou de ser fonte de renda para o artista?

A proposta do Estúdio Carranca SSA é exatamente essa! Oferecer o conforto e a informalidade de uma casa com a qualidade profissional de gravação que é bem difícil de se conseguir em um home studio! Aqui o artista fica a vontade pra ver TV, cozinhar e até dormir! Kkk!

Quais os novos projetos da TYMV? Podemos esperar um show em Aracaju para quando?

A TOCO Y ME VOY deve lançar ainda esse ano o TOCO Y ME VOY Lado B, que é a segunda metade do projeto que lançamos em novembro do ano passado! Ao invés de lançarmos todas as músicas de uma só vez, decidimos dividir o CD em dois! Esperamos sim tocar em Aracaju esse ano ainda e estamos nos movendo para isso!

Fique à vontade e mande uma mensagem para os fãs da banda (e para os fãs em potencial).

Acessem nosso site:

www.tocoymevoy.com.br e baixem músicas, vídeos e fotos!

Divulguem para os amigos, se gostarem da TOCO Y ME VOY e pra os inimigos, se não!!!

Grande abraço a todos!
Thiago Ribeiro.

Coletânea de links

Minhas favoritas são:



                                                                              "Todo Mundo" - ao vivo 


Ensaio no Carranca SSA

Contato para shows:


071- 8789 7999
tocoymevoy.music@gmail.com



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