sexta-feira, 27 de setembro de 2013

ÁLVARO GUITARREIRO - vida de sideman

Da 1a vez que vi Álvaro, em 1995, ele tocava no clube do Banese com a Banda Vezzo. Acho que faziam baile com ênfase no Axé. Curiosamente, usava uma Jackson Randy Rhoads e não perdia a chance de fazer um dive bomb. Alguns anos depois o talentoso guitarrista já animava a noite do Tequila Café, então no seu melhor momento, em bandas como Conexão 69 e Foxy Lady, além de fazer vários freelancers. E em 1999 formou comigo o duo de guitarras da Sulanca, onde permaneci até 2002. Em 2003 Álvaro migrou para São Paulo, onde vive até hoje e desfruta de carreira sólida,100% dedicada à Música.

Em Sergipe, me disse ele que já trabalhou com:

Marco Vilane, Rogério, Patricia Polayne, Rubens Lisboa, Joésia Ramos, Tom Robson, Irmão, Cláudio Barreto, Célia Gil, Jessica Lieko, Ismar Barreto, além das bandas Foxy Lady, Conexão 69, Java, Maria Scombona, Sulanca, Naná e os Camará, Explicit Sex, dentre outros.

O currículo do homem pós-Sergipe, contudo, é ainda mais invejável:

Álvaro Alexandre (Alvaro Guitarreiro), guitarrista, violonista e produtor musical.
Nasceu no Rio de Janeiro e cresceu em Aracaju, onde estudou com grandes professores de Música da cidade e se profissionalizou em 1996. Desde então teve o prazer de trabalhar ao lado de alguns dos maiores nomes do cenário musical brasileiro, participando de gravações e shows ao lado de várias bandas e artistas importantes do cenário nacional e internacional como Claudio Zolli, Cláudia Leite, Carlinhos Brown, Mallu Magalhães, Lulu Santos, Gabriel o Pensador, Dominguinhos, Seu Jorge, Wanessa Camargo, Marcelo Mira, Marcelo D2, Ana Carolina, John Legend (USA), Placebo (ENG), Edu Ribeiro, Preta Gil, Vanessa da Mata, Charlie Brown Jr., Rogério Flausino (Jota Quest),Alexandre (Natiruts), Paula Lima, Vanessa Jackson, Alma D´Jem, Ana Cañas, Arnaldo Antunes, entre outros.
Atualmente é sócio da Taz Produções e toca com a cantora Roberta Campos e com as bandas Grooveria e Alma D´jem.

Convido os leitores do blog a conhecer um pouco mais do universo musical desse sergipano de coração que foi, viu e venceu na Metrópole.


(Marcus Vinicius) Álvaro Guitarreiro”: isso é um trocadilho com a expressão guitar-hero?

(Álvaro Alexandre) Rsrsrs... Isso na verdade aconteceu despretensiosamente, eu estava criando um novo endereço de e-mail e queria colocar alvaroguitarrista, mas esse nome já existia, daí tentei alvaroguitar, e esse também já existia daí lembrei de guitarreiro, que existe numa música do Jorge Bem, que faz referência ao Luiz Wagner, uma lenda viva da guitarra brasileira, bastante conhecido aqui em SP, o verdadeiro "guitarreiro", então eu tomei a ousadia de usar esse nome e daí rolou, agora preciso pedir autorização pra ele porque tem um monte de gente que me chama de guitarreiro, rsrsrs...

Como, quando e por que você se interessou pela guitarra elétrica? Como foi a sua formação musical?

No princípio eu me interessei por causa do som da guitarra, isso por volta de 1990, comecei com um violão que ganhei do meu pai e logo queria comprar uma guitarra porque já gostava de algumas bandas que tinham um som de guitarra em evidência como Dire Straits, Ultraje a Rigor, RPM e outras coisas da época, mas só consegui comprar uma guitarra, que nem tinha marca, por volta de 1992.

A minha formação foi e ainda tem sido em grande parte na base do tocar. Nunca fui um cara estudioso, sempre gostei mesmo de tocar; mas não recomendo apenas isso para ninguém, pois considero o estudo essencial, tanto quanto pegar um instrumento e tocar. Tive minhas primeiras aulas com um cara que considero muito importante na formação de muita gente, o Sérgio Schneider. Esse cara ajudou vários músicos a iniciar sua formação. Posteriormente com Hugo Leonardo, que considero um mestre com um enorme conhecimento e dedicação à Música, ele me ajudou demais, pena que fui bem preguiçoso, pois poderia ter aprendido muito mais enquanto estávamos juntos. Também estudei com o Emanoel (N.R.: Jorge), um grande contrabaixista e professor, e de resto também aprendi e tenho aprendido muito com todos os músicos com quem já toquei e ainda toco, como você.

Influências: que guitarristas, bandas e músicos você admira? E quais influenciaram sua maneira de tocar guitarra?

Tudo o que eu toco me influencia, por mais sutil que pareça, desde bateristas, baixistas, tecladistas, todos os tipos de músicos. Mas vou dar um resumo aqui sobre os guitarristas especificamente.

Os guitarristas que mais me influenciaram foram, em ordem cronológica:

Mark Knopfler, John Frusciante, Steve Vai, Joe Satriani, Fernando Vidal, John Scofield, Robben Ford, Frank Zappa, Davi Moraes, Junior Tostoi, Michael Landau...

Bandas: Dire Straits, Red Hot Chilli Peppers, Metallica, Megadeth, Sulanca, Jamiroquai, Chic, U2, Banda Black Rio, dentre outras...

Admiro todos esses músicos, e mais uma infinidade de outros que faltaria espaço aqui para escrever, rsrs...

Passou pela fase de treinar escalas 8 horas/dia trancado no quarto? E pela fase heavy metal?

Como disse, nunca tive muita paciência pra ficar tanto tempo praticando, não tinha muito prazer, achava meio monótono, no máximo o que eu conseguia eram umas três horas algumas vezes por semana, e um pouco de estudo de teoria básica. A fase heavy metal aconteceu por volta de 1992, eu adorava, mas acho que não tinha muito jeito pra coisa, rsrsrs...

Kiko Loureiro, Steve Morse e Gary Moore são apenas alguns da longa lista de canhotos tocando como destros (mas você suinga mais que todos eles). Nunca pensou em inverter as cordas, como Jimi?

Rapaz que honra, esses caras são grandes mestres! Rsrsrs...
Nunca pensei não, sempre toquei assim, eu realmente sou canhoto, mas quando inverto o instrumento por brincadeira sinto tanta dificuldade quanto qualquer destro, sinto que já me adaptei perfeitamente a tocar assim, não sei se posso ter alguma vantagem por tocar isso, mas não penso em inverter não, deixa as cordas no lugar em que estão mesmo que ja ta difícil assim, rsrsrs...Quanto ao suingue, acho que a afinidade talvez tenha mais a ver com as coisas que ouvi e o fato de sempre gostar de tocar coisas suingadas.

17 guitarras. Coleção ou ferramentas de trabalho? Alguma(s) favoritas(s)?

Acho que um pouco dos dois, sempre adorei guitarras, acho um instrumento sexy e inspirador, gosto de customizá-las o tempo todo, acho que devo ter uma ou duas que nunca mexi. Guitarras são instrumentos muito expressivos, com uma infinidade de sonoridades diferentes, cada guitarra é única, se quero tocar um determinado estilo a guitarra que escolho vai me inspirar de uma forma muito pessoal, cada uma me faz tocar de um jeito diferente.



Não tenho uma guitarra favorita, depende do estilo e até do dia, rsrsrs... Mas o meu grande xodó é uma Yamaha Pacifica 712 que me acompanha desde muito tempo, temos uma enorme cumplicidade e tenho grande respeito por esse instrumento, embora já o tenha aposentado. Mas quem sabe um dia a levo pra tocar em algum lugar...

A famosa Yamaha

Sempre que penso em seu setup imagino um board com muitos pedais, uns 12 pelo menos. Continua carregando muitas latinhas? Quais seus efeitos “do coração”, os que definem o seu som?

O meu set de efeitos desde muito tempo tem sido baseado em pedais, pela sua flexibilidade e porque não te limita, quando você quiser mudar alguma coisa é só trocar aquele pedal e não o setup inteiro, hoje temos várias formas de usá-los, em série, em paralelo, midi e por aí vai... Quando comecei havia poucas marcas disponíveis no Brasil, e eram bem caras e mais difíceis de achar, hoje está muito mais fácil encontrar bons pedais no mercado, o negócio cresceu bastante, ainda bem né? Tenho uns quarenta ou mais dessas latinhas, sou um cara que realmente gosta disso.
Os pedais que considero essenciais para o meu som são overdrive, wah wah, delay e chorus, se me tirarem esses efeitos acabou o guitarrista, rsrsrs...
Atualmente uso dois sets de pedais, um com dezesseis, que levo para a maioria das gigs e outro com um multiefeitos e alguns pedais de drive, fuzz e filtros a parte, que uso mais no estúdio da produtora da qual sou sócio.

A lataria do Guitarreiro


Poderia citar algumas das marcas e modelos que integram seu arsenal?

Amps Pedrone e Acedo, prefiro amps que tenham um bom som limpo e esses caras resolvem a parada. Wah Dunlop Cry Baby modificado pelo Hobbertt, com chave de três posições e timbre vintage, pedais Barber Small Fry e Direct Drive, Hobbertt clone do Hermida Zen Drive (essa é a distorção que mais uso), Tom Tone Boost e Brown Eddie, nem preciso dizer do que se trata, né? Da Line6 vários modelos, Vox Delaylab, Digitech Synth Wah (esse tenho nas duas pedaleiras), compressor Marshall EED-1, não vivo sem compressor, acho essencial na hora de tocar algo mais suingado, dá mais punch e deixa a base mais apertada, gosto muito de fuzz e tenho uns quatro diferentes, mas o que uso na pedaleira de estrada é um da Fuhrman, o Classic Fuzz que é bem podrão, tenho também um reverb da Boss, e no final uso um Pentaswitch do Pedrone também, ele é o cara que organiza toda a bagunça. Mas ainda tenho uma infinidade de outros pedais guardados, talkbox, ebow... Sempre que dá compro algum, rsrsrs... Gosto também dos cabos da Mogami, Monster Cable e George L's para os pedais. As fontes também são de extrema importância, atualmente uso uma Fire Power Bridge 18v. Em relação às guitarras gosto de várias, rsrsrs... Tenho um carinho especial por marcas como Yamaha, Godin, PRS, Fernandes, e atualmente pirei na Music Man, tudo funciona muito bem e tem um ótimo braço.

O que vem usando em termos de amplificadores? Prefere o drive deles ou de pedais? E por quê?

Bom, esse é um assunto interessante porque considero a escolha do amplificador tão importante quanto a escolha da guitarra, cada um tem uma personalidade e te leva para lugares diferentes, eu gostaria de ter vários amps diferentes, quem sabe um dia né? Hoje a fabricação de amplificadores nacionais de qualidade é uma realidade, de uns tempos pra cá tem surgido vários hand mades brasileiros que estão fazendo um ótimo trabalho, caras como o meu querido amigo Pedrone, o Acedo, Alien, T. Miranda e muitos outros mudaram o nosso mercado de amplificadores. Hoje uso um head Pedrone de 50 watts chamado Overdone Special, que é baseado no clássico Dumble Overdrive Special usado pelo Robben Ford, Larry Carlton, John Mayer entre outros, com uma caixa 2x12 com dois alto-falantes Ted Webber Blue Bell, e um Acedo 302 de 50 watts combo, um projeto do próprio Paulo Acedo, mas tenho um monte de outros amplis em vista, rsrsrs...
Costumo usar o drive dos pedais porque nem sempre dá pra levar o seu próprio ampli para a estrada, daí fica mais prático usar um setup que te dê essa independência, além de termos uma infinidade de pedais de drive maravilhosos no mercado, mas adoro o drive dos amplificadores também, costumo usá-los bastante em gravações, principalmente o do overdone special que tem um drive lindo.

Dumbleone. Quem não tem cão...

Vi que grande parte de seu gear é "made in Brazil". Você já aposta na indústria nacional?

Meus amplis são todos nacionais e vários pedais também são de handmakers brasileiros, tem muita gente fazendo um ótimo trabalho e colocando amor no que faz, caras como o Fabio da DMT, o Tom da Tom Tone, o Hobbertt e vários outros. Eu acredito sim, a indústria nacional evoluiu bastante.

Já ouvi você tocando desde sons mais rock, com a Conexão 69, até trabalhos “atmosféricos, sutis, dependentes de efeitos. Passando também por sons mais suingados e por solos a la Tom Morello. Que identidade você construiu ao longo de sua carreira como músico?

Nossa, que pergunta difícil! Rsrsrs... Acho que o que posso dizer em relação a minha identidade e que hoje sou um guitarrista mais pop, me identifico com um estilo de guitarra mais suingado, meio fusion, com forte influencia da música pop, rock, soul, funk, uma boa dose de psicodelia e de Música Brasileira, não sou um grande solista embora eu adore solar rsrsrs... Mas acho que o meu forte é mesmo o acompanhamento e o uso de grandes doses de efeitos no meu som, sempre a serviço da música, que é o mais importante sempre.

A Sulanca foi meu 1º contato com ritmos "do meu quintal", mas que me passaram despercebidos e sub-apreciados por muitos anos. Você sofreu um impacto parecido? O que guardou da experiência?

A Sulanca foi um divisor de águas para mim, ter conhecido a música folclórica nordestina com essa profundidade que ela é usada na Sulanca e ter conhecido o Jorge Ducci que é um cara muito musical e de mente muito aberta me influenciou muito na época e deixou uma marca indelével no meu jeito de sentir a música. 

No programa RG da TV Cultura/SP. Nov/2000
Mas quando cheguei em SP tive outro forte impacto ao me deparar pela primeira vez com a música brasileira de caras como Jorge Ben, Tim Maia, Djavan, Gil e muitos outros, porque em Aracaju eu nunca havia dado devida atenção por uma questão de momento e mercado, mas em SP isso se tornou necessário porque tive que aprender uma boa parte do repertório desses mestres para poder me virar por aqui, então tive que aprender uma nova linguagem que é riquíssima, e isso também me influenciou demais.

Quando estive em Sampa em abril/2005, você já era bem enturmado e conhecido por muita gente. Por que você migrou para São Paulo, e como foi a adaptação?

Eu já havia tocado com muita gente por aí, mas isso ainda não me preenchia, sempre me faltava alguma coisa, eu queria mais experiências musicais e de vida também, pensei “o que vou fazer aqui quando ficar mais velho?” (N.R.: você poderia iniciar um blog). Daí a oportunidade bateu à minha porta quando Marco Vilane, artista com quem eu tocava na época, recebeu um convite para ir morar em SP, então ele reuniu a banda e nos convidou a ir juntos, daí não pensei duas vezes, agarrei a chance com unhas e dentes.
Com Joãozinho e Vinnas. Sampa, 2008
A adaptação foi natural, mas não foi fácil, tive que suportar a saudade, a falta de espaço, o medo e muitas coisas que dariam um livro, rsrsrs... Mas após um ano as coisas começaram a clarear e fui muito ajudado, em SP tem muita gente de fora e existe um grande sentimento de cooperação. Hoje estou bem adaptado à rotina de SP. Embora o trânsito e a correria me incomodem um pouco, eu ainda consigo lidar com isso, sou muito grato a SP por me presentear com um monte de amigos e oferecer tantas experiências com as quais posso aprender sempre. Mas tem horas que me da uma saudade danada de Aracaju, tem muitas pessoas que amo vivendo aí.

Qual o momento mais significativo de sua carreira? Seja show, gravação ou qualquer outro.

É dificil de dizer, vivi várias situações em que me senti o cara mais feliz do mundo por estar ali naquele momento, toquei em muitos lugares e tive a oportunidade de trabalhar com diversos artistas e bandas que eu já curtia há muito tempo desde que eu morava em Aracaju, me sinto realizado por isso, mas o momento em que mais me sinto em casa é quando estou tocando com os meus amigos, para pessoas que querem ouvir boa música, é música para a alma e não para o mercado, e se o som estiver bom, melhor ainda, rsrsrs...

Álvaro, Steve Morse e Rominho
Que estilos/gêneros musicais você nunca tocou, ou não tocaria? E por quê?

Putz! Ja toquei de tudo, rsrsrs... Mas hoje evito tocar coisas com que eu não tenho nenhuma afinidade como pagode, sertanejo, funk carioca "que nem tem guitarra", não tenho nada contra, apenas não me identifico, acho excessivamente comercial e isso me incomoda um pouco, além desses estilos ocuparem grande parte do espaço reservado à música, que já é pequeno.

Existe receita para ser um sideman requisitado?

Servir! Esse é o negócio, é preciso atender às necessidades do artista e principalmente da Música, como o próprio nome diz é preciso estar ao lado, acompanhar e se tornar uma companhia agradável, tanto no palco quanto fora dele, tem que ser bom músico e uma pessoa agradável, as vezes se passa muito tempo junto, é preciso trazer uma boa vibração sempre que possível, estar com o equipamento em dia, conhecer a linguagem do estilo que se vai tocar, ser pontual e se puder, além de tocar bem, agregar artisticamente também é válido.

"Cantem direitinho, tá bem?"
Você agora é sócio de uma produtora. De que exatamente? Qual o produto final e qual a sua contribuição ao processo?

A produtora se chama TAZ Produções, atuamos no mercado audiovisual, principalmente com foco em publicidade. Fazemos trilhas e filmes para comerciais, clipes, documentários, jingles, produção musical de artistas e bandas, ou seja qualquer peça que esteja dentro desse mercado de áudio e video. Na TAZ sou o diretor musical e produtor.

Quais seus projetos atuais: curto, médio e longo prazos?

O meu principal projeto é viver o agora ao máximo, rsrsrs... Mas o meu foco também é poder tocar com quem eu quero e não com quem eu preciso, e fazer o meu negócio prosperar cada vez mais. Para o futuro não planejo nada, prefiro que a vida me leve, nós vivemos programando as coisas e esquecemos de viver o presente, daí o futuro sempre é diferente do que planejamos, rsrsrs... Então prefiro deixar rolar, aceito o que vier.

Que dicas você tem para quem deseja percorrer um caminho parecido, ou seja, deixar sua cidade natal e vir viver de Música “na cidade grande”?

Foco e força de vontade! Tem que saber o que quer e querer muito, não se deixar abater pelas dificuldades, elas sempre existirão para te fazer crescer, aceite as dificuldades e aprenda com elas, não é fácil, mas existem grandes recompensas. Seja honesto com você e com as outras pessoas e não faça tudo pela grana, faça por amor que você consegue.

Coletânea de Links

Audio


Do CD homônimo lançado em 2003. Nesta destacam-se bases funky e alguns efeitos de modulação. Ficha: Cláudio - voz, Valdo França - keys, Álvaro - gtr, Rômulo Filho - bat, Gilson Batata - bass, Pedrinho - perc, Gentil, Carlinhos & Souza - metais. Produzido por Valdo França. Gravado na Capitania do Som, Aracaju/SE, 2002-03


Do único EP gravado pela banda formada por Álvaro, Alexandre Batatinha (tec), Rafael Jr. (bat), Robson Souza (bass) e Naná Escalabre (voz). Nesta o timbre com drive domina, salvo engano ele usou um Marshall Drivemaster, que foi seu drive principal por algum tempo e que hoje pertence a mim.

Video

sábado, 21 de setembro de 2013

THIAGO RIBEIRO (Toco Y Me Voy)

No mês de setembro/13 passei 2 dias em Salvador, hospedado na casa de Thiago Ribeiro, um sobrado – construído há uns 90 anos, segundo ele – encravado no coração do bairro de Brotas. No andar térreo Thiago pilota seu Estúdio Carranca SSA, cuja sala de ensaios/gravação possui uma das melhores acústicas que já ouvi. Chegando lá no meio da tarde de uma quarta-feira, conheci seu projeto “Toco Y Me Voy”, que ensaiava naquele momento. A descrição oficial (conforme perfil no Facebook) é esta:

A TOCO Y ME VOY é formada por:
Thiago Ribeiro, compositor, guitarrista e vocalista, natural de Aracaju, músico e produtor de artistas como Scambo (SSA), Val Macambira(SSA), Maracatu Bizoro Avoador (SSA), Patrícia Polayne (SE), Maria Scombona (SE) e de seu projeto solo intitulado FRAGMENTADA, lançado em 2010. Formado em Composição pela UFBA, foi ganhador do prêmio de melhor arranjo no VII Festival de Música Educadora FM Salvador com a música "Sombra" de sua autoria.
Daniel Neto, acordeonista, natural de Ilhéus/BA, estudante de Composição – UFBA, vencedor do 5º Festival de Sanfoneiros de Feira de Santana com o prêmio de Júri Popular e Destaque Especial do Júri Técnico. Também foi premiado com a quadrilha junina Asa Branca no 8° Concurso Nacional de Quadrilhas Juninas, realizado no Tocantins.
Gustavo Marimbá, baixista, natural de Florianópolis, trabalhou com bandas como Maracatu Bizoro Avoador e Marimbá. Diretor musical do CD “Cada Cabeça É Um Santo” da Banda Soteropolitanos e do CD “Depois da Ilha” de Bruno Aragão.
Ricardo Flocos, baterista, natural de Salvador, músico atuante na cena soteropolitana, trabalhou com bandas como Galvão (Novos Baianos), Abel do Ere, Yure da Cunha (Angola) e Scambo.
Descrição
Sons vindos de berços musicais distintos, com sotaques carregados na mochila da história de quatro músicos se fundem em um projeto criativo, multicultural e divertido intitulado TOCO Y ME VOY.
A banda traz em sua essência a fusão musical, a liberdade de combinar ritmos e estilos diversos e em busca de uma música sincera, genuinamente brasileira, que represente a particularidade de cada componente e a universalidade da música contemporânea. 

The Red Beetle

No dia seguinte fui a uma gig num espaço no Rio Vermelho. Percebi nesse show pelo menos uns 20 estilos e ritmos diferentes, tudo a serviço da boa Música. Um som espontâneo, bem tocado, bem produzido, diferente e original. Uma world music do cabrunco!

Vamos saber mais sobre o cantor, compositor, guitarrista, arranjador e produtor aracajuano, sua carreira e e seus projetos:

Marcus Vinicius: Thiago, dividimos o palco em março de 1991, num festival de bandas no Teatro Atheneu, todo mundo garoto ainda. No ano seguinte vi a Desvio Padrão no Festival Ponta de Mar, a banda coesa e você arrebentando, cantando Pearl Jam. Depois disso nosso contato ficou mais esparso, porém sempre muito rico, como quando fomos sidemen de Rubens Lisboa no Yazigi Acoustic Sessions e em 2003, quando pegamos 24 h de busão Aju-Fortaleza para a Feira da Música, eu na banda-base dos artistas locais e você na Maria Scombona. Quais caminhos musicais você trilhou nesses últimos 20 anos?

Thiago Ribeiro: Pois é, foi exatamente em 1991 que comecei a tocar guitarra! Começar com a Desvio Padrão foi maravilhoso! Éramos uma banda de verdade! Éramos jovens, amigos, musicais, criativos e a banda nos permitiu dar vazão a tudo isso! Fomos contaminados pelo processo de criação musical em grupo e, de uma maneira bem intuitiva, nos transformamos em músicos! Foi o início de tudo!

Desde então mudei para Salvador, trabalhei com vários artistas da Bahia e de Aracaju como guitarrista, violonista e arranjador. Em 1996 fui morar na Inglaterra onde estudei guitarra na antiga Musicians Institute, hoje London Music School. Toquei em pubs, casas noturnas, estações de metrô e como músico de rua em alguns países da Europa. Mudei para Granada/ Espanha onde estudei flamenco com um dos guitarristas atuantes na cena local chamado José Maria.

Voltei para o Brasil em 1999, montei o Estúdio Carranca SSA em 2001, mais ou menos, me formei em Composição pela UFBA em 2007 e desde então trabalho com produção musical, arranjo, gravação e mixagem. Lancei meu primeiro trabalho autoral intitulado Fragmentada em 2010 e em Novembro de 2012 lancei meu novo projeto Toco Y Me Voy.

Com a Maria Scombona, 2003
Quem são suas influências? Considerando: 1) Compositores; 2) Cantores; 3) Guitarristas.

Quanto às influências... Tudo que me diz alguma coisa, me influencia de alguma maneira! Tentando ser específico, vamos lá:

Compositores: Renato Russo, Cazuza, Chico, Caetano e Gil (pra variar), Alceu Valença, Luís Gonzaga, Jimmy Page, John Paul Jones, etc.

Cantores: Renato Russo, Eddie Vedder, Jeff Buckley, Bruce Springsteen, etc.

Guitarristas: Jimmy Page, Eric Clapton, Michael Hedges, Eric Roche (N.R.: Eric, falecido em 2005, foi professor de Thiago no M.I. A música ERIC, gravada por Guthrie Govan no álbum Erotic Cakes, é dedicada a ele), Pat Metheny, Paco de Lucía, Tomatito, Django Reinhardt, etc.

Você viveu a música informal primeiro para depois viver a formal. No entanto sua música soa muito experimental e autodidata. Que papel a Academia teve na sua formação? Fez diferença você ter concluído o curso? (N.R.: muitos músicos e artistas baianos conhecidos passaram pela Escola de Música da UFBA sem, no entanto, terminarem a graduação).

Acho que a Academia me deu mais artifícios para traduzir meu processo criativo musical e melhorou consideravelmente minha comunicação dentro desse universo. Mas a maneira de compor que me é mais natural continua sendo a mesma, ela surge! As canções simplesmente vêm na cabeça. Daí entra o estudo pra estruturar esse impulso criativo. Mas sempre opto por não rebuscar demais! Talvez por isso minha música soe tão experimental e autodidata pra você, porque tenho um compromisso com esse momento da criação e tento manter esse frescor e essa espontaneidade até o resultado final.

As composições do TYMV são todas de sua autoria? Que influências a banda tem? E por que a aposta na “world music/alternative”? (com o perdão por rotular).

Sim, as músicas são minhas e algumas em parceria com a banda. Na verdade o “world music” é um resultado da linha de trabalho da TOCO Y ME VOY. Ou seja, quando chego com uma música nova, espero que cada componente imprima suas características, suas influências nela afinal de contas somos um banda! Resultou nesse som cosmopolita e experimental.

Ouvindo as músicas da TYMV notei um caldeirão imenso de ritmos, muitos apenas sugeridos durante poucos segundos, como se o ouvinte tivesse de “garimpar” pra descobrir. Nos vocais, os backings o são de fato, ocupando um plano bem “dentro” do som. A sutileza é uma característica de seu trabalho? Poderia falar mais sobre isso?

Os arranjos da TOCO Y ME VOY brincam com a proximidade que existe entre os ritmos de diversas partes do Brasil e do mundo. Tentamos traçar um paralelo entre diferentes estilos sem que soe forçado ou pouco natural. Nesse caso a sutileza é importante porque ela sugere mais do que define cada estilo. Tentamos também executar ao vivo algo bem próximo do que se ouve no CD por isso os vocais são tão “dentro do som”, já que os outros 3 componentes da banda não são cantores.

No show no Rio Vermelho vi poucos - porém muito entusiasmados - fãs. Qual a estratégia da TYMV para angariar mais fãs?Como você vê o cenário atual para os artistas que nadam contra a maré como a TYMV? Ainda é possível/desejável apostar nas formas tradicionais de mídia, como Rádio e TV?

Toco Y Me Voy, 2012
A estratégia atual da TOCO Y ME VOY é fazer um monte de shows, enquanto for possível e divertido! “O artista tem de estar onde o povo está”; criar movimentos artísticos musicais com outras bandas e artistas é uma boa estratégia também, pois fortalece o seu projeto e o dos parceiros; usar e abusar da Internet como a maior ferramenta de divulgação dos artistas independentes como a TOCO Y ME VOY; tocar no rádio, na TV, no elevador, na música ambiente! Kkk! Acho também que nadar contra a maré é fazer o que não sabe ou o que não gosta! Se você é artista, você faz arte porque precisa, antes de qualquer outra coisa! 

Seu vocal me soa um pouco como Eddie Vedder/Jeff Buckley, e talvez seja o elemento “rock” ainda mais forte no som que você faz hoje. Sem no entanto os “excessos dramáticos” (do segundo principalmente). Soar mais “sob controle” ajuda a destacar as letras, em minha opinião. Você poderia falar mais sobre isso?

Obrigado pelas comparações, eu realmente ouvi bastante os dois, kkk! Acho que cheguei a um ponto hoje como cantor e artista que consegui combinar esse mundo de influências em uma linguagem que me é natural. As influências estão lá sim, mas de uma maneira sutil e transformada. A TOCO Y ME VOY carrega essas influências mas de uma maneira mais madura, mais leve também! Aliás, a leveza é um dos pilares do projeto talvez por isso o “drama” a que se referiu não esteja tão presente.

Vi que você usa uma “Frankentele” com escala de Les Paul (N.R.: de comprimento 24,75” contra o padrão original de 25,5”). Por que a opção por uma guitarra digamos, diferente? Você não liga, como a maioria dos guitarristas, para as “marcas de grife”?

Adoro Fenders e Gibsons!! Mas a busca por uma sonoridade e visual diferentes é o que me estimulou a montar a Frankentele”. Cada guitarra tem suas características que interferem diretamente na minha maneira de tocar e até pensar a música. Com a “Frankentele”, uso cordas 0.11 (porque uso muita scordatura e slide - N.R.: scordatura é o termo em italiano para afinações alternativas) e isso me obriga a tocar com mais pegada!

Você passou pela fase “8 h/dia trancado tirando solos de Jimi/Van Halen/Malmsteen etc?” E hoje, mantém alguma rotina de estudos/prática de guitarra (ou de outros instrumentos)?

Passei algo parecido! Mas ouvindo blues, Muddy Waters, Eric Clapton, Stevie Ray Vaughan, um pouco de Metallica, Megadeth, Led Zeppelin, George Benson, Pat Metheny, Tomatito, Paco, etc. Nunca tive muito saco para tirar solos, kk! Passava muito tempo com a guitarra tocando, criando, descobrindo mais do que copiando!

Notei bandolim em algumas músicas (ou seria o primo americano?), cujo timbre contribui com a leveza já citada. Muitos guitarristas já o utilizaram, porém em detalhes de músicas (como Steve Howe, do Yes). Você o trouxe mais "pra frente" do contexto. Como e por que a associação com esse instrumento?

É um bandolim sim, o detalhe é que toco como um banjo!! Foi apelidado de "banjolim" por isso! Primeiro pelo mesmo motivo da "Frankentele", a busca por outras sonoridades e segundo porque, como sou muito limitado com "banjolinista", comecei a compor de uma maneira mais simples e gostei disso!

Como é manter um excelente estúdio de gravação numa época em que todo mundo quer gravar tudo em casa, e a venda de CDs deixou de ser fonte de renda para o artista?

A proposta do Estúdio Carranca SSA é exatamente essa! Oferecer o conforto e a informalidade de uma casa com a qualidade profissional de gravação que é bem difícil de se conseguir em um home studio! Aqui o artista fica a vontade pra ver TV, cozinhar e até dormir! Kkk!

Quais os novos projetos da TYMV? Podemos esperar um show em Aracaju para quando?

A TOCO Y ME VOY deve lançar ainda esse ano o TOCO Y ME VOY Lado B, que é a segunda metade do projeto que lançamos em novembro do ano passado! Ao invés de lançarmos todas as músicas de uma só vez, decidimos dividir o CD em dois! Esperamos sim tocar em Aracaju esse ano ainda e estamos nos movendo para isso!

Fique à vontade e mande uma mensagem para os fãs da banda (e para os fãs em potencial).

Acessem nosso site:

www.tocoymevoy.com.br e baixem músicas, vídeos e fotos!

Divulguem para os amigos, se gostarem da TOCO Y ME VOY e pra os inimigos, se não!!!

Grande abraço a todos!
Thiago Ribeiro.

Coletânea de links

Minhas favoritas são:



                                                                              "Todo Mundo" - ao vivo 


Ensaio no Carranca SSA

Contato para shows:


071- 8789 7999
tocoymevoy.music@gmail.com



domingo, 8 de setembro de 2013

LUIZ EDUARDO (Crove Horrorshow)

O blog tem a honra de apresentar hoje uma entrevista exclusiva com Luiz Eduardo Oliveira, guitarrista, cantor e compositor da banda Crove Horrorshow.

Fundada em Aracaju nos anos 80, a CHS foi pioneira no Rock autoral feito em Sergipe, ao lado de bandas como Karne Krua, Fome Africana, H2O e Guilhotina, e tornou-se referência e inspiração para muitos que depois viriam a formar suas próprias bandas. O power-trio bebe na fonte do rock setentista, do pós-punk inglês e da Soul Music e transmuta tudo isso num som totalmente original, capaz de agradar admiradores dessas e de outras vertentes do Rock, e por que não dizer, de outros gêneros musicais também. A banda está lançando em Aracaju, no próximo dia 04/10, o seu primeiro CD, intitulado “Depois do Rock”, já disponível para venda nas melhores lojas locais.

Arte do CD "Depois do Rock" (2013)
Vamos portanto à entrevista:

Lembro-me de assistir a um show do Perigo de Vida, sua 1ª banda, em 1985, (inclusive o 1o show de rock a que assisti) num centro social no Conj. Sol Nascente. Como era o som dessa banda, o repertório era todo autoral? Quando você montou o Crove, aproveitou algum material do PDV?
A história foi a seguinte: um amigo meu me levou pra assistir um ensaio da banda H2O, que tinha Alexandre, André, Adelmo (que hoje bota som) na bateria e Mercinho no baixo. Os caras faziam cover de Beatles, Rolling Stones etc. Fiquei besta, vendo pela primeira vez guitarras, baixo e bateria. Eu já tocava violão, tirava vários sucessos da MPB e alguns rocks nacionais. Peguei a guitarra de Alexandre e toquei umas músicas do Barão Vermelho e Paralamas e os caras se surpreenderam, uma vez que eles não conheciam ainda esse repertório. Isso foi em 83, no início da explosão do rock no Brasil. O cara que me levou no ensaio foi Wilton, que eu tinha conhecido através de Silvio, do Karne Krua, mas nessa época a gente era mais surfista do que roqueiro. Mercinho brigou com os caras e me procurou pra montar uma banda. Chamei Sérgio Pauleira, que eu conhecia das rockadas da casa de Edvan, "o rei do rock", no Leite Neto, e montamos o Perigo de Vida (a ideia do nome foi de Sérgio). O som era rock and roll com guitarra distorcida, embora Sérgio quisesse que fôssemos heavy metal. Eu era do fã clube de Raul Seixas e ouvia muito Barão Vermelho, Herva Doce, mas também rock pesado (Hendrix, Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath) e progressivo (Pink Floyd, Genesis) nessa época. Nosso repertório era todo autoral. Fizemos uma versão de uma música do Judas Priest (Electric Eye), com letra em português de Sérgio. Esqueci o título que a gente deu, mas Sérgio com certeza ainda lembra. Tínhamos um repertório de mais de dez músicas (a maioria eu ainda toco e lembra das letras). Em 85, no show que você viu, estávamos em nossa última formação (antes Kennedy tinha tocado bateria na banda, e depois Sérgio de novo), que contava com George na bateria e Ricardo Cadastro na guitarra base. Briguei com Mercinho e a banda acabou em 85, quando montei outra banda, o Crove, que contava com Tony Almada, que depois tocou no Karne Krua, na batera e Wirlan Sardinha no baixo. Participamos num festival de música desse mesmo ano, organizado por Jorge Lins na orla de Atalaia, com a música Luzes da Noite, e já com Odara na bateria. Não aproveitamos nada do Perigo no Crove, pois na época do Crove eu não gostava mais de rock pesado e tinha outras referências, como Echo and the Bunnymen, Cure, o próprio U2 etc. No disco resolvemos gravar uma música do Perigo, Sobre o Tempo, que desencabei do baú.

As composições do Crove são todas de sua autoria? Quem são seus compositores e cantores favoritos?
Sou eu que componho, letra e música. Os arranjos são feitos pela banda, nos ensaios. Há participações de Odara nas letras e concepções de algumas músicas. Cantores e compositores favoritos, deixe eu ver… Tem um monte de gente, mas no Brasil destaco Gil, Lô Borges, Renato Russo, Renato Ladeira, e de fora tem Siouxsie and the Banshees, que considero a maior banda de rock de todos os tempos, Robert Smith, Maurice White, do Earth, Wind and Fire etc.


Show no Colégio Unificado, 1987. Com Mercinho no baixo e Raimundinho no teclado


Ouvindo o som do Crove, noto o uso de voicings muito originais, com cordas abertas (como em Catedral, p. ex.). Eu também gosto muito desse tipo de voicings, mas comecei a utilizar bem depois, quando comecei a ouvir Rush/Alex Lifeson. Quais são suas influências na guitarra e de onde vieram essas - e as outras - idiosincrasias do seu som?
Acho que a sonoridade do Crove, nos anos oitenta, tentou se basear em bandas inglesas como Echo and the Bunnymen, Siouxsie and the Banshees, The Church e The Cure, mas melódica e harmoniosamente sou muito influenciado pela MPB, pelo som de Minas, Zé Ramalho etc. Nosso rock é o rock do chorus, do pós punk do final dos anos 70 e início dos 80. Nos anos 90 demos uma namorada com o grunge norte-americano, e ouvi muito Soundgarden e Nirvana, influências bem visíveis em músicas como Geração Ropinol e Barra Pesada. Depois nosso som ficou mais solto, misturando às vez os dois registros, como em A Dança do Forró, e vez por outra me pego fazendo musicas semelhantes às dos anos 80, que é nossa "marca registrada", por assim dizer.

Quais suas músicas favoritas, dentre o repertório do Crove?
Gosto mais das dos anos 80 atualmente. Das que estão no CD, Tudo, Não Mais, mas curto também as dos anos 90, como Catedral, A Dança do Forró etc. Estamos ensaiando para o show de lançamento músicas mais antigas, como Você, Nada, Agora, e são as que estou mais curtindo atualmente.

Por que a bela “Nada Passou” ficou de fora do CD?
Porque deixamos de tocar essa música nos shows desde que Gutierre (N.R.: Gutierre de La Peña, baixista) saiu da banda, em 96, de modo que ela não fazia parte do nosso repertório de show, com a formação atual.


Para os gearheads: que guitarras, efeitos e amplificadores você usa/usou, ao vivo e no CD? Seu som é “dependente” de algum efeito ou o Crove poderia fazer um show somente com guitarra, cabo e amp?
O Crove tocaria só com guitarra e amp se eu tivesse uma PRS como a que gravei, emprestada de Yuri Garin, e um Amp com qualidade equivalente. Como não tenho, atualmente uso a minha velha Epiphone estilo Les Paul com um Fuzz Face para distorção e um chorus MXR para as músicas Croveanas, além de um Cry Baby para algumas ocasiões. No repertório dos anos 80 só uso chorus, pois quando o Perigo de Vida acabou, minha ideia era fazer uma banda com esse novo estilo, a tal da "new wave", como se dizia. A distorção surgiu mais no Crove com a moda grunge dos anos 90. Mas vez por outra uso solos distorcidos em algumas músicas.  

Show no Cultart, 1994 
Você mantém alguma rotina de estudos/prática de guitarra? Em algum momento da vida você teve lições formais de Música?
Rapaz, vergonhosamente, só pego na guitarra quando ensaio ou toco em shows. Em casa só toco violão, nos intervalos de minha vida acadêmica (N.R.: Eduardo é também professor da Universidade Federal de Sergipe). Às vezes ligo a guitarra e fico tocando, acompanhando algum som, mas só pra tirar onda. Aprendi a tocar e a cantar na rua: fui de uma época em que quase todo mundo andava com um violão debaixo do braço, levando-o até pra escola, então aproveitei isso, junto com certa aptidão para pegar as músicas pelas revistinhas de cifras. Se você conseguisse tocar violão e cantar com certa desenvoltura, já tava pronto, pelo menos para se destacar entre os colegas de turma da escola. Depois que participei de um festival de música do Colégio Salesiano, com uma composição minha e de um colega, Dilson, entrei numas de fazer minhas próprias músicas no violão. E até hoje tô nessa. As músicas do Crove surgem primeiro no violão. 


Quando, como e por que você decidiu que seria músico? Você se realiza mais compondo, tocando guitarra ou cantando?
A ideia de montar uma banda tem a ver com o lance de ser roqueiro, com uma certa rebeldia meio alienada, e por eu achar que tenho algo interessante a dizer. Eu mesmo gosto das coisas que faço e toco e canto sempre movido pelo prazer de tocar e cantar e mostrar minha música para as pessoas.

O Crove Horrorshow tem admiração praticamente unânime entre os roqueiros da minha geração. Como você definiria o som do Crove, e por que você acha que o som dela atinge admiradores de tantas vertentes do Rock?
Acho que o Crove virou uma banda cultuada entre várias gerações de roqueiros porque, apesar de nossas paradas, acompanhamos o desenrolar de várias gerações. Sem Grana, por exemplo, é uma música dos anos 80, mas até hoje a galera pede nos shows, porque virou uma marca da banda, e ela tocava na época da hegemonia do chorus, mas também na época do grunge e da febre do mangue bit.

Fale sobre a entrada de Fábio, o mais novo integrante, por sua vez baixista e compositor de outra banda também histórica do Rock Sergipano, a Snooze. Podemos esperar parcerias inéditas em termos de composições?
Ainda não compusemos juntos, pois Fábio se colocou desde o início como fã da banda e passou muito tempo pegando nosso repertório, que é muito longo. Ele fez grandes arranjos de baixo no disco e curte muito nosso som. Fabinho entrou na banda dois anos depois que cheguei do doutoradoTínhamos nos encontrado em São Paulo, através de Álvaro Alexandre. Como a gente tava sem baixista, depois da saída de Chico Pitanga e do término da Funkin' Soul, nos encontramos no Capitão Cook num show dos Mamutes e lhe fizemos o convite, eu e Odara. Ele topou e começamos a ensaiar. Isso foi em 2008.

Como surgiu a decisão de entrar em estúdio e gravar o CD “Depois do Rock”? O repertório é todo de material antigo ou há músicas recentes? Como foi o processo de gravação desse álbum? 
Antes de eu viajar para Portugal decidimos gravar o Depois do Rock (o título quem deu foi Odara), com músicas de todas as nossas fases, com ênfase para algumas mais recentes. Selecionamos 12 das que vínhamos executando nos shows com Fabinho. No total, o Crove tem uma média de cinquenta músicas.


Podemos esperar mais um CD de inéditas do Crove Horrorshow? Se sim, para quando?
Claro. Precisamos registrar ainda muita coisa. No próximo ano começamos a gravar o novo disco. E será um disco com a maioria de composições dos anos 80 (talvez Nada Passou, que é dos anos 90, entre).

Como você vê o cenário atual do Rock Sergipano? O que mudou em relação a 25 anos atrás? 
Muita coisa mudou e muita coisa continua igual, sobretudo no que toca a mercado, público e apoio de instituições públicas e privadas. Há hoje uma diversidade maior, com muitas bandas autorais, com estilos diversos. As bandas também começaram a romper as barreiras de nosso estado, apresentando-se em outros estados e até no exterior. Me sinto muito bem em estar vivendo e participando desse momento.

Ouço Joubert Moraes, meu tio, falar muito da genialidade de Marcos Preto (compositor da geração dele), mas de quem nada se fala hoje em dia e que não deixou nada registrado, e como ele há muitos. Fico aliviado em ver que uma grande banda, de uma época em que gravar era muito difícil, conseguiu resistir ao tempo e registrar de modo tão fiel o seu material. Que outras bandas e artistas dos primórdios do Rock Sergipano você gostaria que tivessem legado registros consistentes, para as gerações futuras?
Marcos Preto, ou Marcos Chulé, é irmão de um brother meu, Gilmar Bob, que também já foi  vocalista do extinto Filhos da Crise. Ouvi as músicas de Marcos Preto através de Bob. Ele tinha ganhado um festival de música em 68 ou 69, com a música Cruzada, aqui em Aracaju. Gostaria de ver gravadas as músicas do Alice. De ver mais registros do Karne Krua, que é a banda de rock mais importante de Sergipe, por nunca ter parado desde o início de sua trajetória, mas gosto também de muita coisa dos anos 80 que ainda não gravou suficientemente, Tonho Baixinho, Paulo Lobo, Joésia, Mingo Santana, Chico Queiroga, Rogério, Edelson Pantera, para citar apenas alguns.

Fique à vontade e mande uma mensagem para os fãs da banda (e para os futuros fãs também).
O nosso disco foi feito com muito carinho, depois de uma gestação de mais de dois anos. Esperamos corresponder às expectativas.

Pode-se ouvir trechos das músicas do CD no vídeo-promo abaixo:



O CD já se encontra disponível para venda na loja FREEDOM, situada na Rua Santa Luzia, nº 151 - Centro, Aracaju/SE - (79) 9924-8973