Do adolescente curioso que me espiava no gargarejo dos shows do Hemisferios, no começo dos anos 90, ao professor-doutor que ajudou a formatar o curso de Música da UFS e hoje leciona na UNB muitas águas rolaram para Hugo L. Ribeiro. Graduação na UFBA, doutorado na Irlanda, várias passagens por bandas locais como Maria Scombona, Sulanca, Bando de Mulheres e Warlord, a paternidade de três, etc.
A inquietação, no entanto, continua a mesma, se é que não aumentou. Dele eu costumo dizer que apenas 10% dos projetos vingam, mas como ele sempre está inventando alguma coisa já é barulho mais que suficiente.
A última dele foi cooptar seus alunos da UNB para executar na íntegra a magnum opus do Dream Theater, o Images & Words, álbum que em 1992 - auge do Grunge! - definiu as regras do que viria a se chamar de "Metal Progressivo".
De férias em Aracaju, HLR fará um workshow onde executará na íntegra o álbum clássico, no dia 11/01/14 (vide detalhes na foto abaixo). Aproveitei e fiz algumas perguntas para o blog.
(Vinnas) 1. Vc se considera um guitarrista de prog-metal? Por que tocar o I&W inteiro? Algum desafio pessoal?
(HLR) Essa é uma pergunta complicada, uma vez que não toco há quase quatro anos. Mas diria que, se fosse escolher atualmente, tocaria um Death Metal Progressivo, com muita liberdade para dissonâncias e atonalismo. O Metal Progressivo é muito tradicional na maior parte do tempo, e isso cansa.
Eu escolhi tocar o IaW como desafio pessoal mesmo. Eu gosto de me impor desafios e tentar superá-los. Como se eu estivesse provando para mim mesmo que eu consigo algo. Foi assim quando eu voltei da Irlanda do Norte e fiquei quase seis meses estudando e treinando o Moto Perpétuo de Paganini e o Vôo do Besouro. Estava na hora de outro desafio. em 2014/1 haverá um mais difícil: Tribal Tech!
2. Qual a música mais difícil de executar e por que?
Tecnicamente falando foi Take The Time, pois há dois trechos dobrados com o teclado que são muito complicados de fazer por causa da mudança constante de corda. Pull me under tem uma frase de guitarra que é praticamente impossível tocar ao vivo. Pelo que vi em alguns vídeos, nem o Petrucci se importa muito com ela. Learning to Live foi complicada para aprender, pois há muitas variações. O problema de tocar um disco como esse é conseguir decorar tudo. É muita coisa para aprender, e os pequenos detalhes enriquecem a composição.
3. Qual foi seu regime de treino pra encarar o desafio?
Primeiro eu decorei todas as notas e ficava tocando na metade do tempo. Depois de decorado, comecei a aumentar a velocidade para chegar no andamento original. Estudava todo dia. Depois que aprendi todas as músicas aí eu relaxei um pouco e tinha semanas que nem tocava guitarra. Mas aí, na semana seguinte, tocava quase todos os dias. Sempre que ia tocar, colocava o playback e tocava todas as músicas. Depois voltava uma a uma e tentava corrigir os problemas. Outras vezes eu ia direto no problema e ficava quase uma hora repetindo, para conseguir a habilidade técnica necessária. É um processo muito chato, mas necessário. O programa JAMMIT ajudou muito ao disponibilizar os playbacks sem a guitarra. Mas quando eu não tinha os playbacks eu colocava uma bateria eletrônica (Hydrogen) e tocava parte por parte.
4. Quais as características mais marcantes do estilo de John Petrucci?
Ele é muito diatônico, então não apresenta dificuldades em entender seu solo. O que é necessário é alcançar sua destreza técnica, sua capacidade de tocar tão rápido com tanta clareza e fluência. Ele gosta muito de acordes abertos e, quando não dá, ele usa muito acordes sus2, seja para acordes com características maiores ou menores. Essa é uma marca bem específica dele. Outra característica marcante é o uso rítmico da mão esquerda, dobrando notas em alguns momentos. Seria como se um trecho fosse todo em colcheias e algumas notas soltas ele toca semicolcheias. Ele faz muito isso. O exemplo mais claro é no início da parte instrumental de metrópolis.
5. Fale sobre o workshow: o que será abordado?
É um pouco de tudo isso que falei acima. Mas vou chamar a atenção para os detalhes que às vezes a gente não ouve. Sugiro que os interessados assistam ao vídeo da apresentação que fiz na UnB com a banda tocando todo o álbum. Prestem atenção no baterista. Ele tocou tudo igual nos mínimos detalhes. São poucos os bateristas que topam fazer algo assim. Mas foi maravilhoso tocar com ele. Espero encontrar outros músicos com tanta dedicação e seriedade.
Linkpedia
Site pessoal - http://hugoribeiro.com.br/
Show da UNB na íntegra:
Videos do workshow em Aracaju já podem ser vistos em www.youtube.com/kingtabor
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