O
blog tem a honra de apresentar hoje uma entrevista exclusiva com Luiz Eduardo Oliveira, guitarrista, cantor e compositor da banda Crove Horrorshow.
Fundada
em Aracaju nos anos 80, a CHS foi pioneira no Rock autoral feito em
Sergipe, ao lado de bandas como Karne Krua, Fome Africana, H2O e
Guilhotina, e tornou-se referência e inspiração para muitos que depois viriam a formar suas próprias bandas. O power-trio bebe na fonte
do rock setentista, do pós-punk inglês e da Soul Music e transmuta
tudo isso num som totalmente original, capaz de agradar admiradores
dessas e de outras vertentes do Rock, e por que não dizer, de outros
gêneros musicais também. A banda está lançando em Aracaju, no
próximo dia 04/10, o seu primeiro CD, intitulado “Depois do Rock”,
já disponível para venda nas melhores lojas locais.
Arte do CD "Depois do Rock" (2013) |
Vamos
portanto à entrevista:
A
história foi a seguinte: um amigo meu me levou pra assistir um
ensaio da banda H2O, que tinha Alexandre, André, Adelmo (que hoje
bota som) na bateria e Mercinho no baixo. Os caras faziam cover de
Beatles, Rolling Stones etc. Fiquei besta, vendo pela primeira vez
guitarras, baixo e bateria. Eu já tocava violão, tirava vários
sucessos da MPB e alguns rocks nacionais. Peguei a guitarra de
Alexandre e toquei umas músicas do Barão Vermelho e Paralamas e os
caras se surpreenderam, uma vez que eles não conheciam ainda esse
repertório. Isso foi em 83, no início da explosão do rock no
Brasil. O cara que me levou no ensaio foi Wilton, que eu tinha
conhecido através de Silvio, do Karne Krua, mas nessa época a gente
era mais surfista do que roqueiro. Mercinho brigou com os caras e me
procurou pra montar uma banda. Chamei Sérgio Pauleira, que eu
conhecia das rockadas da casa de Edvan, "o rei do rock", no
Leite Neto, e montamos o Perigo de Vida (a ideia do nome foi de
Sérgio). O som era rock and roll com guitarra distorcida, embora
Sérgio quisesse que fôssemos heavy metal. Eu era do fã clube de
Raul Seixas e ouvia muito Barão Vermelho, Herva Doce, mas também
rock pesado (Hendrix, Deep Purple, Led Zeppelin e Black Sabbath) e
progressivo (Pink Floyd, Genesis) nessa época. Nosso repertório era
todo autoral. Fizemos uma versão de uma música do Judas Priest
(Electric Eye), com letra em português de Sérgio. Esqueci o título
que a gente deu, mas Sérgio com certeza ainda lembra. Tínhamos um
repertório de mais de dez músicas (a maioria eu ainda toco e lembra
das letras). Em 85, no show que você viu, estávamos em nossa última
formação (antes Kennedy tinha tocado bateria na banda, e depois
Sérgio de novo), que contava com George na bateria e Ricardo
Cadastro na guitarra base. Briguei com Mercinho e a banda acabou em
85, quando montei outra banda, o Crove, que contava com Tony Almada,
que depois tocou no Karne Krua, na batera e Wirlan Sardinha no baixo.
Participamos num festival de música desse mesmo ano, organizado por
Jorge Lins na orla de Atalaia, com a música Luzes da Noite, e já
com Odara na bateria. Não aproveitamos nada do Perigo no Crove, pois
na época do Crove eu não gostava mais de rock pesado e tinha outras
referências, como Echo and the Bunnymen, Cure, o próprio U2 etc. No
disco resolvemos gravar uma música do Perigo, Sobre o Tempo, que
desencabei do baú.
As composições do Crove são todas de sua autoria? Quem são seus compositores e cantores favoritos?
Sou
eu que componho, letra e música. Os arranjos são feitos pela banda,
nos ensaios. Há participações de Odara nas letras e concepções
de algumas músicas. Cantores e compositores favoritos, deixe eu ver…
Tem um monte de gente, mas no Brasil destaco Gil, Lô Borges, Renato
Russo, Renato Ladeira, e de fora tem Siouxsie and the Banshees, que
considero a maior banda de rock de todos os tempos, Robert Smith,
Maurice White, do Earth, Wind and Fire etc.
Show no Colégio Unificado, 1987. Com Mercinho no baixo e Raimundinho no teclado |
Ouvindo
o som do Crove, noto o uso de voicings muito originais, com cordas
abertas (como em Catedral, p. ex.). Eu também gosto muito desse
tipo de voicings, mas comecei a utilizar bem depois, quando comecei a
ouvir Rush/Alex Lifeson. Quais são suas influências na guitarra e
de onde vieram essas - e as outras - idiosincrasias do seu som?
Acho
que a sonoridade do Crove, nos anos oitenta, tentou se basear em
bandas inglesas como Echo and the Bunnymen, Siouxsie and the
Banshees, The Church e The Cure, mas melódica e harmoniosamente sou
muito influenciado pela MPB, pelo som de Minas, Zé Ramalho etc.
Nosso rock é o rock do chorus, do pós punk do final dos anos 70 e
início dos 80. Nos anos 90 demos uma namorada com o grunge
norte-americano, e ouvi muito Soundgarden e Nirvana, influências bem
visíveis em músicas como Geração Ropinol e Barra Pesada. Depois
nosso som ficou mais solto, misturando às vez os dois registros,
como em A Dança do Forró, e vez por outra me pego fazendo musicas
semelhantes às dos anos 80, que é nossa "marca registrada",
por assim dizer.
Quais
suas músicas favoritas, dentre o repertório do Crove?
Gosto
mais das dos anos 80 atualmente. Das que estão no CD, Tudo, Não
Mais, mas curto também as dos anos 90, como Catedral, A Dança do
Forró etc. Estamos ensaiando para o show de lançamento músicas
mais antigas, como Você, Nada, Agora, e são as que estou mais
curtindo atualmente.
Por que a bela “Nada Passou” ficou de fora do CD?
Porque
deixamos de tocar essa música nos shows desde que Gutierre (N.R.:
Gutierre de La Peña, baixista) saiu da banda, em 96, de modo que ela
não fazia parte do nosso repertório de show, com a formação
atual.
Para
os gearheads: que guitarras, efeitos e amplificadores você
usa/usou, ao vivo e no CD? Seu som é “dependente” de algum
efeito ou o Crove poderia fazer um show somente com guitarra, cabo e
amp?
O
Crove tocaria só com guitarra e amp se eu tivesse uma PRS como a que
gravei, emprestada de Yuri Garin, e um Amp com qualidade equivalente.
Como não tenho, atualmente uso a minha velha Epiphone estilo Les
Paul com um Fuzz Face para distorção e um chorus MXR para as
músicas Croveanas, além de um Cry Baby para algumas ocasiões. No
repertório dos anos 80 só uso chorus, pois quando o Perigo de Vida
acabou, minha ideia era fazer uma banda com esse novo estilo, a tal
da "new wave", como se dizia. A distorção surgiu mais no
Crove com a moda grunge dos anos 90. Mas vez por outra uso solos
distorcidos em algumas músicas.
Show no Cultart, 1994 |
Rapaz,
vergonhosamente, só pego na guitarra quando ensaio ou toco em shows.
Em casa só toco violão, nos intervalos de minha vida acadêmica (N.R.: Eduardo é também professor da Universidade Federal de Sergipe). Às
vezes ligo a guitarra e fico tocando, acompanhando algum som, mas só
pra tirar onda. Aprendi a tocar e a cantar na rua: fui de uma época
em que quase todo mundo andava com um violão debaixo do braço,
levando-o até pra escola, então aproveitei isso, junto com certa
aptidão para pegar as músicas pelas revistinhas de cifras. Se você
conseguisse tocar violão e cantar com certa desenvoltura, já tava
pronto, pelo menos para se destacar entre os colegas de turma da
escola. Depois que participei de um festival de música do Colégio
Salesiano, com uma composição minha e de um colega, Dilson, entrei
numas de fazer minhas próprias músicas no violão. E até hoje tô
nessa. As músicas do Crove surgem primeiro no violão.
Quando,
como e por que você decidiu que seria músico? Você se realiza mais
compondo, tocando guitarra ou cantando?
A
ideia de montar uma banda tem a ver com o lance de ser roqueiro, com
uma certa rebeldia meio alienada, e por eu achar que tenho algo
interessante a dizer. Eu mesmo gosto das coisas que faço e toco e
canto sempre movido pelo prazer de tocar e cantar e mostrar minha
música para as pessoas.
O Crove Horrorshow tem admiração praticamente unânime entre os roqueiros da minha geração. Como você definiria o som do Crove, e por que você acha que o som dela atinge admiradores de tantas vertentes do Rock?
Acho
que o Crove virou uma banda cultuada entre várias gerações de
roqueiros porque, apesar de nossas paradas, acompanhamos o desenrolar
de várias gerações. Sem Grana, por exemplo, é uma música dos
anos 80, mas até hoje a galera pede nos shows, porque virou uma
marca da banda, e ela tocava na época da hegemonia do chorus, mas
também na época do grunge e da febre do mangue bit.
Fale sobre a entrada de Fábio, o mais novo integrante, por sua vez baixista e compositor de outra banda também histórica do Rock Sergipano, a Snooze. Podemos esperar parcerias inéditas em termos de composições?
Ainda
não compusemos juntos, pois Fábio se colocou desde o início como
fã da banda e passou muito tempo pegando nosso repertório, que é
muito longo. Ele fez grandes arranjos de baixo no disco e curte muito
nosso som. Fabinho entrou na banda dois anos depois que cheguei do
doutorado. Tínhamos nos encontrado em São Paulo, através de Álvaro
Alexandre. Como a gente tava sem baixista, depois da saída de Chico
Pitanga e do término da Funkin' Soul, nos encontramos no Capitão
Cook num show dos Mamutes e lhe fizemos o convite, eu e Odara. Ele
topou e começamos a ensaiar. Isso foi em 2008.
Como surgiu a decisão de entrar em estúdio e gravar o CD “Depois do Rock”? O repertório é todo de material antigo ou há músicas recentes? Como foi o processo de gravação desse álbum?
Antes
de eu viajar para Portugal decidimos gravar o Depois do Rock (o
título quem deu foi Odara), com músicas de todas as nossas fases,
com ênfase para algumas mais recentes. Selecionamos 12 das que
vínhamos executando nos shows com Fabinho. No total, o Crove tem uma
média de cinquenta músicas.
Podemos esperar mais um CD de inéditas do Crove Horrorshow? Se sim, para quando?
Claro.
Precisamos registrar ainda muita coisa. No próximo ano começamos a
gravar o novo disco. E será um disco com a maioria de composições
dos anos 80 (talvez Nada Passou, que é dos anos 90, entre).
Como você vê o cenário atual do Rock Sergipano? O que mudou em relação a 25 anos atrás?
Muita
coisa mudou e muita coisa continua igual, sobretudo no que toca a
mercado, público e apoio de instituições públicas e privadas. Há
hoje uma diversidade maior, com muitas bandas autorais, com estilos
diversos. As bandas também começaram a romper as barreiras de nosso
estado, apresentando-se em outros estados e até no exterior. Me
sinto muito bem em estar vivendo e participando desse momento.
Ouço Joubert Moraes, meu tio, falar muito da genialidade de Marcos Preto (compositor da geração dele), mas de quem nada se fala hoje em dia e que não deixou nada registrado, e como ele há muitos. Fico aliviado em ver que uma grande banda, de uma época em que gravar era muito difícil, conseguiu resistir ao tempo e registrar de modo tão fiel o seu material. Que outras bandas e artistas dos primórdios do Rock Sergipano você gostaria que tivessem legado registros consistentes, para as gerações futuras?
Marcos
Preto, ou Marcos Chulé, é irmão de um brother meu, Gilmar Bob, que
também já foi vocalista do extinto Filhos da Crise. Ouvi as
músicas de Marcos Preto através de Bob. Ele tinha ganhado um
festival de música em 68 ou 69, com a música Cruzada, aqui em
Aracaju. Gostaria de ver gravadas as músicas do Alice. De ver mais
registros do Karne Krua, que é a banda de rock mais importante de
Sergipe, por nunca ter parado desde o início de sua trajetória,
mas gosto também de muita coisa dos anos 80 que ainda não gravou
suficientemente, Tonho Baixinho, Paulo Lobo, Joésia, Mingo Santana,
Chico Queiroga, Rogério, Edelson Pantera, para citar apenas alguns.
Fique à vontade e mande uma mensagem para os fãs da banda (e para os futuros fãs também).
O
nosso disco foi feito com muito carinho, depois de uma gestação de
mais de dois anos. Esperamos corresponder às expectativas.
Parabéns por este canal, Vinnas!
ResponderExcluirParabéns, Crove FOREVER!
Obrigado, Minho San-Liver. E Long Live Rocknroll!
ExcluirOs fãs da Crove são responsa demais!! :))
ResponderExcluirTo muito feliz com esse lançamento, pois lembro bem durante os primeiros ensaios, enquanto aprendia o repertório dos anos 1980 (qdo eu era jovem demais para frequentar os shows) ir aos poucos percebendo o nível das composições e me dando conta de que se tratava de um repertório muito importante de ser registrado com a máxima fidelidade. Para conseguir isso, os dois dino-croves (principalmente Odara) não pouparam esforços em ditar cantando as linhas principas dos baixos de Mercinho, principalmente. Um grande aprendizado não ter referencia de gravação alguma, mas acho que 'incorporamos o espírito'!
:)
Massa o espaço, e vamos fazer essa jam! :)
Vc fez um trampo excelente, FS!
ExcluirSó uma correção: esta imagem que estamos usando pra divulgação, não é a capa do CD, mas faz parte da arte!
ResponderExcluirCorrigido, valeu Fabio!
ExcluirMuito bacana, Vinnas. Vlw msm!!
ResponderExcluirEu que agradeço, Eduardo! E que dia 4/10 seja uma grande celebração!
ExcluirCrove Horror Show realmente se tornou uma referência do rock em Sergipe. Uma parte importante da história da Cena Rock Underground. Quando estiver em Aracaju eu compro meu CD.
ResponderExcluirValeu, Hugo!!
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